Textos Vivos e Reverenciados de um Imortal Nordestino
Francisco Alves Cardoso
Falando sobre uma
revelação, o inesquecível Tristão de Athaíde disse certa vez: “Não há nada mais
gostoso para o crítico do que ser castigado de um preconceito. Encontrar o
contrário do que esperava. Ser vencido pelo livro. E sentir, pouco a pouco, que
vai nascendo um sol debaixo de seus olhos. Qualquer coisa de definitivo.
Qualquer coisa que de ora avante vai fazer parte do seu espírito e da sua
realidade”. Até minutos antes a literatura brasileira estava vazia desse livro.
E de agora em diante, já não pode viver sem ele.
Ao escrever “Textos
Vivos e Reverenciados de um Imortal Nordestino”, José Romero Araújo Cardoso faz
renascer com vibração nomes reais da cultura regional, rasgando alguns esquecimentos,
às vezes até propositais, para fazer justiça total aos nomes mais famosos da
história dessa região brasileira tão massacrada e esquecida pelos poderes
públicos, só lembrada nos períodos eleitoreiros.
José Romero chegou com
a paixão ardente pelas coisas do Nordeste, fiel a tudo o que existe de marcante
nesse pedaço do Brasil tão forte como seus filhos bravos e lutadores.
Ele grita como o
verdadeiro advogado dessa gleba de terra chamada Nordeste, formada pelos
estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe e Bahia.
Romero, o pesquisador,
buscou o Brasil de ponta a ponta, para invadir esse tema palpitante chamado
globalização, que toma conta a cada instante da mente criadora das grandes
nações, cada qual enveredando os caminhos mais curtos para vencer as mais
fracas.
Como escritor, Romero
exercitou sua mente rápida, sagaz e criativa para falar dos Textos Vivos e
Reverenciados, coisa que ele gosta de levar ao seu público imenso, por esse
Brasil afora.
Falo de Romero como um
dos homens mais corajosos que conheci nos últimos tempos. A história paginada
nos livros nordestinos deve muito a esse jovem pesquisador, porque ele emprega
o seu tempo, dias e noites adentro, pesquisando vida e obra dos destacados líderes
regionais.
O nosso escritor é a
cultura viva de que tantos necessitamos para os momentos sagrados da pesquisa.
Ele tem dentro de si a vivacidade do grande Luiz Gonzaga, através do seu
cancioneiro lembrado a cada instante por todos nós.
Recentemente participei,
na cidade de Pombal, sertão paraibano, do lançamento do livro “Maringá – O Nome
Verdadeiro”, do escritor pombalense Severino Coelho Viana, que narra a lenda da
cabocla Maringá. É uma das mais belas histórias culturais do Nordeste
brasileiro, ignorada ainda pelos campos ricos de regiões outras. E Romero fala
com propriedade dessa riqueza, que tem o grande senador paraibano Ruy Carneiro
como uma das figuras principais.
No livro “Maringá – O
Nome Verdadeiro”, Romero já diz: “O folclore sertanejo é riquíssimo e precisam
ser resgatadas com grande interesse as lendas esquecidas com a névoa do tempo e
pelos efeitos da aculturação, a exemplo da história (ou estória?) transmitida
de boca em boca de Maria, uma cabocla sensual que migrou da região do Ingá (no
Agreste da Paraíba) para a cidade de Pombal (Sertão da Paraíba) em uma grande
seca ocorrida no século XIX.
Faz justiça ao
cangaceiro Lampião, nascido em Pernambuco, uma figura que tem ocupado os
escritores famosos com a sua história antes e depois de entrar para o cangaço.
Retrata o coronelismo ainda hoje mandante e o
modelo maldito que tanto reinou entre nós, a mancha negra chamada escravidão.
Faz questão de ressaltar aspectos de nossa rica cultura, abrindo espaços
grandiosos para a literatura de cordel, uma das mais belas páginas nordestinas.
Narra também detalhes, como as palavras de Manoel de Acopiara que diz: “A nossa
região é a terra melhor do mundo, pois a maior virtude está justamente na
afabilidade do seu povo e no coração imenso que bate no peito dos sofridos e
esperançosos nordestinos”.
Temas tratados por
Romero no seu livro são obrigatórios para qualquer escritor, como a busca pela
integração regional no planeta, a eterna disputa entre o socialismo e o
capitalismo, os conflitos constantes no Oriente Médio, são focos que nos
preocupam, pois são fundamentados no ódio, na injustiça social, no ouro chamado
petróleo.
Nunca deixamos de viver
momentos dramáticos no mundo, basta lembrar o pronunciamento do grande Otávio
Mangabeira, relembrando quatro milagres que ocorreram para salvar à humanidade:
“O primeiro, o da resistência britânica, mais do que prometera a força humana,
como diria o épico, após a retirada de Dunquerque. O segundo exibiu-se,
ostentou-se na capacidade e no heroísmo com que os russos expulsaram do seu
solo um invasor vitorioso e arrogante, através de episódios incríveis como o
foram os da defesa de Moscou e Stalingrado. O terceiro levou Hitler o que
chamei de a loucura de invadir a União Soviética, e ocultou um gênio alemão, a
tantos títulos incomparáveis, o segredo final da bomba atômica. O quarto foi o
milagre americano”.
Quem ousaria negar que
a sociedade é sempre muito defeituosa. Porque vive eternamente brigando pelo
bem e pelo mal. É sempre acobertada pelo ódio, pela infâmia, pelo desrespeito e
principalmente na luta pelo poder. Joracy Camargo diz em sua peça teatral “Deus
lhe Pague”: “A sociedade é muito defeituosa. Pela lógica, o mendigo deveria ser
sempre pobre. Pelo menos, enquanto fosse mendigo. Entretanto, pobres, realmente
pobres, são os ricos. Pobres de espírito, pobres de tranquilidade, de
fraternidade, e, às vezes, até de dinheiro.
E na sua enorme
sabedoria diz: “Não há mais filósofos. A sabedoria humana está muito espalhada.
Hoje, todos sabem tudo. Não há mais segredos, nem mistérios. O último dos
ignorantes julga-se capaz de salvar a humanidade. Ninguém mais aprende, todos
ensinam”.
Romero tem a sabedoria
técnica do Padre Cícero Romão Batista, o homem que ainda hoje abala o Juazeiro,
o Brasil e o Vaticano com a sua história mítica respeitada e reverenciada como
o “Santo do Nordeste”.
Tem nas suas entranhas
a determinação íntegra de Antonio Conselheiro, na luta pela posse da terra para
os mais necessitados agricultores.
E a métrica
revolucionária de Patativa do Assaré, criador de um mundo apaixonado pela
poesia, para todos os recantos das terras brasileiras.
Ninguém pode apagar a
coragem cultural de Romero Cardoso, e neste livro ele surge como um novo Luiz
Waldvogel, em “Vencedor de Todas as Batalhas”. Durante a Revolução Francesa
procurou-se por todos os meios apagar o espírito do povo a ideia de Deus e da
religião, já queimando bíblias e fechando igrejas ou prendendo os crentes. Um
dos heróis dessa cruzada ímpia afirmou certa vez a um piedoso camponês, que a
igreja da aldeia seria destruída, para não haver o que trouxesse ao povo a
lembrança da Divindade. A isto replicou o campônio: “Então o senhor terá de
apagar as estrelas”. Devo afirmar que para retirar a inteligência de Romero só
teria que acabar todos os seus retalhos de lembrança, que Deus lhe outorgou.
Defende ardorosamente o
Nordeste brasileiro, afirmando com força que “é extremamente nefasta a imagem
disseminada da pobreza crônica e insolúvel dos destinados nordestinos”. Na
verdade, o escritor tem razões sobradas para aplicar essa defesa da nossa
região, que tem uma esplêndida e riquíssima cultura, especialmente quando se
fala em literatura de cordel.
O escritor lança o
sábio verbo em “A Lenda do Poço Frio”, narrando “Noites de Luas Cheias”, para
enaltecer a cultura nossa, causadora de inveja a outras regiões. Na verdade,
usam as maldosas forças da riqueza material, traduzida em finanças, para
massacrar o nosso povo trabalhador, humilde e rico do mundo cordelista, marco
da valorização do folclore sempre crescente e belo entre os nordestinos.
Traça, ainda, neste
livro, perfis com grande profundidade de figuras lendárias como Jesuíno
Brilhante, uma estrela do cangaço. E as secas do Nordeste, só lembradas nos
anos pré-eleitorais, a busca dos políticos pelos votos dos coitados quase
derrubados pela força de escassez d’água e de alimentos.
Você, José Romero,
disserta com propriedade sobre fatos inesquecíveis do universo, como o 11 de
setembro de 1973, no Chile, passando pela deposição do governo Arbenz, na
década de cinquenta na Guatemala. E não retira da sua mente a figura imortal
chamada Che Guevara.
Meu herói, com a minha
seriedade de sempre resumo a sua obra: O mundo está no seu livro e o livro vai
ganhar o mundo. Parabéns!
Mesmo sem conhecer
ainda o Parque Cultural “O Rei do Baião”, na Comunidade São Francisco,
município de São João do Rio do Peixe, localizado no Vale do Rio do Peixe, na
Paraíba, o professor José Romero de Araújo Cardoso receberá expressivas
homenagens no dia 24 de agosto do corrente ano de 2013, por ocasião da
realização do VI FESMUZA – Festival de Músicas Gonzagueanas, promovido pelo
Grupo União São Francisco, com apoio do “Caldeirão Político”, pelos relevantes
serviços prestados a essas duas Instituições nordestinas, mantenedoras das
festividades do “Rei do Baião”.
Romero será introduzido
na Galeria dos Escritores Amigos do “Caldeirão Político” e receberá o Troféu de
“Gonzagueano do Ano”.
Advogado,
Jornalista, Professor, Cronista, Pesquisador, Memorialista, Escritor, Produtor
Cultural, Fundador e Editor do Caldeirão Político.
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