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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Bárbara, que barbaridades....


BÁRBARA DE ALENCAR

Por que lutavam os rebeldes de 1817 e 1824? Seriam realmente guerreiros da liberdade? Que liberdade era aquela? Que liberalismo era aquele? Tentemos.

A luta renhida entre o localismo e o centralismo atravessou o primeiro século do Brasil apartado. Senhores locais vindos das mais profundas raízes formadoras de nossa sociedade ansiavam por ter enfim, definitiva e legitimamente, as rédeas de seus terreiros. Eis os que se diziam liberais naqueles tempos. Mas o imperador lhes barrou o plano. Fez-lhes engolir o Quarto Poder: Moderador. Na prática, a absolutização da Pátria recém-nascida. Gritos liberais então tentaram não engasgar. Mas liberais o quanto? Suficientemente ao ponto de um Rousseau? Não! Jamais! Nunca a loucura de um sufrágio universal! Nem pensar em libertação de escravos! Nem imaginar a divisão da terra! A questão era bem mais simples: fatias de poder mais bem repartidas. E só. Piegas, simplória, lugar-comum a luta desses “heróis”: aferrar seu poder incontestável sobre pobres quinhões regionais nordestinos.

Mas a História também se faz de mitos. D. Bárbara de Alencar, legítima representante da aristocracia latifundiária escravista. Não! Perdoem-me! Legítima heroína da liberdade nacional! Uma cidade se faz com gente... gente que se reconhece num mesmo processo formador. É preciso ter História para se ter identidade. Ela, um dos fundamentos da identidade da elite intelectual cratense.

D. Bárbara foi muito mais uma mãe ciosa de suas crias do que mesmo uma lutadora consciente de sua prática política. Foi assim, uma matrona, “coronela”, sra. de escravos e de largas terras. Saiu à luta não como uma musa republicana de bandeira em punho, mas muito mais para proteger os interesses “liberais” da época, meramente localistas e particularistas. Na aventura em que se viu levada acabou caindo em desgraça, ela e sua família. Perderam terras, posição social, a própria vida até. Parentes foram perseguidos ainda por décadas. José de Alencar, pai do escritor, filho da mãe “heroína”, vergonhosamente se salva ao pedir perdão ao imperador. Verá os picos do poder no Império brasileiro: governador do Ceará, senador vitalício... Bem se vê tamanha a convicção política dos “heróis” liberais.

É com tristeza que ainda vejo se repetir, pleno século XXI, práticas culturais e intelectuais dignas dos salões aristocráticos. Tecem-se elogios, erguem-se memoriais, textos, imagens, sons... Tudo a fim de perpetuar uma grande mentira, a mentira dos heróis. Há muito sabemos que os heróis não existem, nada significam, em se tratando da verdade humana, a vida humana real. Se olhássemos o passado com os olhos de então, veríamos. Aqueles homens e mulheres não foram heróis, não poderiam sê-lo. Não foram além! Não foram verdeiramente revolucionários. Como seriam? Se eram latifundiários? Se eram escravocratas? Se eram da parcela proprietária detentora do poder? Não os acuso de nada. Não os julgo. Apenas tento aqui ser um pouco (ou um tanto?) iconoclasta, porque é preciso ser iconoclasta. Os ícones encobrem, mascaram, enganam. Personagens irreais criados e recriados em épocas e épocas. Chega de heróis. Precisamos de gente. Gente lúcida, livre, consciente.

HUGO ESMERALDO SOBREIRA, cratense.

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