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segunda-feira, 23 de novembro de 2009
A cultura, o pré-sal e o Brasil. Artigo do ministro da Cultura, Juca Ferreira, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo.
A diversidade cultural, além de ser nosso mais rico patrimônio, pode se tornar um ativo econômico de valor incalculável
O MUNDO todo está de olho no Brasil. Não é para menos: estamos nos consolidando como uma das maiores democracias do planeta. Começamos o processo de inclusão econômica de milhões de brasileiros e a nossa economia nunca esteve tão bem. Estamos sendo convocados a ter uma participação mais decisiva na pactuação de uma nova ordem mundial. A vitória do Rio de Janeiro na disputa pela sede das Olimpíada de 2016 não foi um acaso. O presidente Lula sinalizou muito bem esse aspecto quando disse que “o Brasil ganhou definitivamente a sua cidadania internacional”.
Com o pré-sal, passamos a fazer parte de um grupo seleto de países, chamando mais ainda a atenção do mundo para as nossas riquezas minerais e nossas florestas, nosso potencial aquífero e nossa biodiversidade.
Nunca vivemos desafios em tão grande escala, e não será surpresa se -como tem acontecido com outras nações ricas em recursos naturais e fontes de energia- isso vier a atrair a cobiça internacional, aguçando conflitos em vários níveis: regional, racial, cultural etc.
O Brasil terá que ser capaz de enfrentar os desafios do século 21 e, ao mesmo tempo, resolver os problemas históricos da nossa sociedade.
Não estamos agora lidando apenas com históricas mazelas domésticas: nossas abismais desigualdades sociais e regionais, os níveis de violência insuportáveis, a destruição do meio ambiente e dos recursos naturais.
Não se assume um papel de liderança apenas porque se tem dinheiro. É preciso ter valores próprios e propostas exequíveis para todos. Nada disso será possível sem disponibilizarmos educação de qualidade e acesso pleno à cultura para todos os brasileiros.
No governo Lula, a cultura passou a ser tratada pelo ministério como uma necessidade humana básica, algo que não é supérfluo nem complementar, mas essencial, como comida, moradia, meio ambiente saudável, educação e saúde. Uma necessidade básica para a plena realização da condição humana de todos os brasileiros.
Por meio da arte e da cultura, geramos mais conhecimento, possibilitamos subjetividades complexas e melhoramos as condições de criação e interpretação do mundo.
O desenvolvimento cultural colabora para qualificar as relações sociais e reduzir a violência. Para além dessa dimensão, a cultura é a economia que mais cresce no mundo. Daí o acerto em tratar a cultura como parte de um projeto de nação, como parte da preparação do país para enfrentar desafios e ampliar nossa capacidade para pensar e compreender o mundo contemporâneo, construindo um desenvolvimento sólido e irreversível.
Tem sido grande a nossa luta para viabilizar recursos. O Vale-Cultura, a reforma da Lei Rouanet e tantas outras ações, entretanto, ainda não são suficientes.
No dia em que fui nomeado ministro, disse que iria propor a inclusão da cultura como área privilegiada no Fundo Social do pré-sal.
Obter tal inclusão é o reconhecimento da importância para o país da atividade cultural. É o reconhecimento de que ela é estratégica e que não pode ser tratada como algo secundário. Mesmo com todo o esforço do governo para ampliar o orçamento da cultura, nosso deficit é imenso.
Mas não é só isso. Além de investir na montagem e na manutenção de uma infraestrutura que facilite em todo o território nacional o acesso pleno à cultura, precisamos investir em capacitação e formação de artistas, técnicos e gestores culturais.
Isso sem deixar de lado a forte necessidade de indução para o desenvolvimento da economia da cultura, com linhas de crédito e investimentos.
A nossa criatividade sempre superou nossas condições econômicas e sociais. A diversidade cultural brasileira, além de ser nosso mais rico patrimônio, pode se tornar um ativo econômico de valor incalculável.
É preciso que o Brasil tenha a lucidez para perceber o papel central e multifacetário da cultura nesse momento histórico que estamos vivendo. Não há como pensar em uma grande nação sem um desenvolvimento cultural intenso.
É a cultura que dá a liga à cidadania.
É por meio dela que brasileiros de todos os cantos se enxergam parte de uma mesma nação.
A cultura não pode ficar de fora do projeto de construção do país democrático, plural e tolerante que queremos. Nossa grande contribuição no contexto da globalização e das novas linguagens está na nossa diversidade cultural, símbolo de adaptabilidade, convivência e harmonia. A nossa singularidade é a nossa pluralidade.
Essa é a essência do Brasil de todos.
É ela que dará a solidez necessária a qualquer tentativa de desagregação social, política e econômica.
JUCA FERREIRA , 60, sociólogo, é o ministro de Estado da Cultura.
* Publicado por Carol Lobo/Comunicação Social
* Categoria(s): Artigos, Na Mídia, O dia-a-dia da Cultura
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