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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Missão de Pe. Ibiapina no Cariri faz 145 anos



Religioso fez três visitas ao Cariri, atuando na reforma de igreja e construção das Casas de Caridade


Casas de Caridade eram destinadas a moças pobres. Elas eram educadas para a fé e o exercício dos trabalhos domésticos


A data até o momento passou despercebida na região. Atuação do Padre Ibiapina no Cariri influenciou Padre Cícero

Crato O ano de 2009 termina sem nenhuma comemoração dos 145 anos do início da ação missionária do Padre Mestre Ibiapina em terras caririenses. Uma data que, até o momento, passou despercebida, apesar dele ter deixado uma extensa obra social na região do Cariri, entre as quais a construção de casas de caridade, cemitérios, igrejas, açudes e barragens. Atualmente, o processo de canonização de padre Ibiapina encontra-se na Congregação das Causas dos Santos, no Vaticano.

Padre Ibiapina já é oficialmente reconhecido como Servo de Deus, após o documento "Nihil Obstat" da Santa Sé, emitido a 18 de fevereiro de 1992. No último dia 17 de setembro, por ocasião da visita "ad limina", os 22 bispos do Regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que abrange os Estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte), tendo à frente o arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz Fernandes, solicitaram celeridade no processo de canonização do Apóstolo do Nordeste.

Esquecimento

"Infelizmente, não costumamos cultivar nossa memória", lamenta o professor de História da Universidade Regional do Cariri (Urca), Océlio Teixeira. O pesquisador também considera que "Padre Ibiapina, com certeza, foi o maior cearense do século XIX".

Numa época em que a Igreja Católica vivia atrelada ao Estado imperial e o clero, por sua vez, vivia longe do povo, Padre Ibiapina deu curso a um novo modelo e, conforme escreve José Comblim, rompeu "radicalmente com essa estrutura eclesiástica tradicional. Na idade em que muitos sacerdotes já pensam no seu estabelecimento definitivo, numa função sedentária que lhe permita economizar as energias declinantes, Ibiapina escolhe a vida itinerante no interior".

O assessor da Cáritas Diocesana, Alex Josberto Andrade Sampaio, a quem cabe a animação das ações sociais da Diocese do Crato, informou que as comemorações da atuação do Padre Ibiapina na região foram transferidas para o mês de novembro. Ele diz que o Padre Ibiapina é fonte do trabalho pastoral da Diocese.

Visitas

O trabalho missionário do Padre Ibiapina, também conhecido como "apóstolo do Nordeste" na região do Cariri teve início em 14 de outubro de 1864, na então vila de Missão Velha, estendendo-se até o início de fevereiro do ano seguinte. Durante esse período ele visitou, além de Missão Velha, a vila de Barbalha e o povoado de Conceição do Cariri, hoje município de Porteiras.

Como principal obra dessa primeira visita à região, Padre Ibiapina inaugurou, em 2 de fevereiro de 1865, a Casa de Caridade da vila de Missão Velha. A ideia de base das Casas de Caridade fundadas pelo religioso por todo o Nordeste era o acolhimento das pequenas órfãs. Ali as meninas receberiam uma educação completa e seriam preparadas para serem boas esposas e mães de família.

A educação nestas casas era tão boa, a cargo das irmãs que ficaram conhecidas por beatas, que muitas famílias pediram para que suas filhas pudessem participar da formação. Nas Casas de Caridade havia também a "roda de enjeitados" pela qual se recebiam as crianças cujas mães não tinham condições para criá-las.

Influência

Desse ato de inauguração da Casa de Caridade de Missão Velha participou o cratense Cícero Romão Batista, à época um jovem de cerca de vinte anos de idade, que segundo os mais diversos estudiosos foi fortemente influenciado pela pregação do Padre Ibiapina e pelo seu exemplo de serviço ao povo pobre e humilde do Cariri. Cícero viria a se tornar um dos líderes religiosos mais importantes da região, fazendo da cidade que fundou, Juazeiro do Norte, um polo de peregrinação.

A segunda visita à região ocorreu no período de maio de 1868 a agosto de 1869, passando mais de um ano na região. Nessa etapa, ele visitou Missão Velha, Barbalha, Caldas (vila de Barbalha), Crato, Goianinha (atual distrito de Jamacaru), Jardim, Porteiras, Milagres, Brejo Santo e Vila de São Pedro (atualmente Abaiara). As principais ações foram a construção de capelas, recuperação de igrejas e três Casas da Caridade.

A terceira e última visita do religioso ao Cariri ocorreu no período de 9 de fevereiro de 1870 a 25 de abril do mesmo ano. Visitou as Casas de Caridade implantadas na região. Depois dessa data, Ibiapina não realizou mais missões no Ceará. O padre peregrino continuou seu trabalho missionário até 1876, quando foi acometido por uma doença que o deixou paralítico, não podendo se locomover sozinho. Passou a residir na Casa de Caridade de Santa Fé, na Paraíba. Nessa Casa, ele viveu mais sete anos, participando ativamente da vida da comunidade. Faleceu no dia 19 de fevereiro de 1883.

BIOGRAFIA
Religioso optou pela vida missionária

Crato José Antônio Pereira Ibiapina nasceu em 5 de agosto de 1806, na Vila de Sobral. Era o terceiro filho do casal Francisco Miguel Pereira e Teresa Maria de Jesus. Em 1816, sua família se transfere para a vila de Icó e Ibiapina é matriculado na escola do professor José Felipe. Nessa vila seu pai trabalhou como tabelião público, sendo convidado em 1919 para ocupar o mesmo cargo na recém-criada Comarca do Crato. Em Crato, Ibiapina teve aulas com o José Manuel Felipe Gonçalves.

Diante das agitações políticas após a Revolução Pernambucana de 1817, que teve na vila de Crato um de seus pilares no Ceará, o pai de Ibiapina, em 1820, resolve enviar o filho para a recém-criada vila de Jardim para estudar com o latinista Joaquim Teotônio Sobreira de Melo. Em 1823, toda a família se transfere para Fortaleza. Nesse ano morre sua mãe e Ibiapina ingressa no Seminário de Olinda, onde permaneceu por um curto período.

Em Fortaleza seu pai e seu irmão mais velho, Alexandre, se envolveram na Confederação do Equador. O pai foi fuzilado em 1825, e o irmão, preso em Fernando de Noronha, onde morreu pouco tempo depois. Ibiapina, que voltara ao Ceará no inicio de 1824, teve que assumir e manter financeiramente a família. Segundo o estudioso padre Francisco Sadoc de Araújo, foi nessa época que adotou o sobrenome Ibiapina, uma homenagem do pai à povoação de São Pedro de Ibiapina, como também fizeram outros confederados a fim de homenagear topônimos regionais.

Em 1828, Ibiapina retorna ao Seminário de Olinda para continuar os estudos. No entanto, permanece apenas seis meses. Após o seminário, Ibiapina ingressou no Curso de Direito do Recife, concluindo em 1832. No ano seguinte, Ibiapina exerce o cargo de professor substituto de Direito Natural na Faculdade de Olinda, foi eleito Deputado Geral e nomeado, em dezembro, Juiz de Direito da Comarca de Campo Maior (hoje Quixeramobim) do Ceará.

Concluídos os trabalhos legislativos, em 1837, Ibiapina voltou para o Recife e resolve exercer a advocacia. No entanto, ele passa a exercer efetivamente a profissão na Paraíba. Em 1840 volta ao Recife e continua a exercer a advocacia. A partir de 1850, no entanto, Ibiapina resolve abandonar seus trabalhos forenses e inicia um período dedicado à meditação e exercícios de piedade.

Após três anos de meditação e reflexão, Ibiapina decide-se pelo sacerdócio. Nesse sentido, em 12 de julho de 1853, aos 47 anos de idade, ele se tona Padre Ibiapina. Logo após sua ordenação, o Bispo Dom João da Purificação o nomeia Vigário Geral e Provedor do Bispado, e professor de Eloquência do Seminário de Olinda, mas opta pela vida missionária.

Padre Ibiapina começou então seu trabalho missionário pelo Interior do Nordeste. Até sua morte, em 13 de fevereiro de 1883, ele peregrinou por Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraíba. Em cada lugar ele pregava, orientava, promovia reconciliações, construía açudes, igrejas, cemitérios, cacimbas, dentre outras tantas obras.

Em diversas vilas construiu Casas de Caridade, destinadas a moças pobres. Elas eram educadas para a fé, o exercício dos trabalhos domésticos e para o casamento. No Ceará ele esteve entre 1862 a 1870. Primeiro na região norte, na vila de Sobral e adjacências. Depois no Cariri, sul da província.
FONTE:http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=714700

MAIS INFORMAÇÕES
Cúria Diocesana
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Fax: (88) 3523.7819.

Antônio Vicelmo
Repórter

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