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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

SOBRE ARTE E SUAS POLÍTICAS PÚBLICAS

Lembro-me de um debate entre candidatos a prefeito do Crato ocorrido há uns bons dez anos ou mais, no auditório da Urca. Um dos pretendentes afirmava: “sempre me pergunto qual seria a vocação do Crato: se a agricultura, a indústria, o comércio ou a cultura e educação”. Terminou concluindo ser nossa cidade um polo cultural e educacional. Infelizmente percebi logo se tratar de algo meramente retórico. O cidadão em questão não era portador de profundidades intelectuais ou preparos de homem público ao ponto de tão precisa análise ser realmente sincera.
Mas o fato me fez arrepiar. Fiquei sonhando o dia em que veria chegar ao poder um líder cratense capaz de ter por convicção política algo sabido mundo afora: o setor de serviços é o futuro! Turismo, arte, cultura, lazer, educação, hotelaria; enfim, sabe-se que centros industriais já se afirmaram – ou vamos querer competir com as indústrias da capital? - e o comércio é desenvolvido em conseqüência da vinda de pessoas para a cidade por meio de uma estrutura de atração e recepção, ou seja, o comércio não é um fim em si mesmo, com raras exceções, como vemos em algumas cidades que antes de mais nada vivem de ser mercados a céu aberto.
Voltando ao ponto: o Crato bem poderia vir a ser novamente a Meca cultural do Cariri. Cito aqui nossas riquezas artísticas, ecológicas, históricas e educacionais. Dispomos de atrativos dos mais ricos no setor de turismo artístico-cultural. Apenas nos faltam políticas públicas. Efetivamente inexiste um esforço municipal decidido e decisivo a arregimentar empenhos dos governos estadual e federal. Não dispomos de um calendário cultural de destaque, agregador de renda e valores construtivos à nossa cidade. Certamente que a festa da Exposição gera renda, agora temos também o Berro a ir despontando como evento. Mas e o que temos em termos de crescimento imaterial? O que oferecemos de riqueza artística? De alternativas culturais inovadoras e enriquecedoras? A população sempre será entregue à mercê dos lixos “culturais” cotidianos?
Bem, temos exemplos dignos de invejar. Não muito longe nem grandes centros. Vemos o festival de Guaramiranga que chega a dobrar a população da cidade com um público de alto nível de renda e cultura. Temos Garanhuns com um calendário que comporta pelo menos três grandes eventos culturais de impacto nacional. Eu mesmo vi uma orquestra sinfônica em plena catedral. E mais uma vez sonhei aquilo na catedral da Sé... Tive a certeza que a questão é simplesmente de opção, de vontade política. Engrandecer nossa cidade com eventos de nível cultural é atrair público de melhor renda, sabedor de valores artísticos, apreciador do artesanato, das expressões populares como reizados e bandas cabaçais, curiosos da história local, admiradores da ecologia – tão rica em nosso Cariri. Fomentar tais processos é sim responsabilidade dos líderes públicos. Em tempo: dizer que o marasmo em que caímos é culpa da classe artística é o mesmo que apontar os enfermos de uma UTI como os responsáveis por sua doença.
Arte e cultura não são produtos numa prateleira. São vetores de desenvolvimento espiritual e material de uma sociedade. Agregam valores intangíveis. Olhemos para a Casa Grande de Nova Olinda, olhemos para Garanhuns, olhemos pelo Crato. Que a consciência de nosso futuro ser algo inseparável do campo cultural não seja mais pura retórica. Crato, Cidade da Cultura...

Por Hugo Esmeraldo Sobreira

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