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terça-feira, 2 de março de 2010

A Paixão que Mudou o Nordeste Por: Manoel Severo

Carmela Eulina


Um dos personagens mais marcantes da história do nordeste sem dúvidas foi o cearense de Ipu, Delmiro Gouveia; abaixo trazemos um dos capítulos impressionantes da vida desse grande visionário e espetacular empreendedor.

Partimos de seu retorno da Europa, quando em Recife se apaixonou perdidamente pela bela Eulina.

Aqui nasceria uma paixão que iria mudar a história do nordeste. Ao retornar da Europa, com sérias dificuldades financeiras, Delmiro Gouveia se apaixonaria por uma jovem de nome Carmela Eulina do Amaral Gusmão, filha do governador de Pernambuco, Segismundo Gonçalves, este, forte aliado do senador Rosa e Silva, inimigo declarado de Delmiro Gouveia. De temperamento forte e impulsivo, Delmiro Gouveia resolve raptar Eulina, seria processado e pronunciado em Juízo, assim; foge para Alagoas, mais precisamente para a localidade de Pedra, município de Água Branca, uma pequena estação ferroviária da Great Western, construída por D. Pedro II em 1878, com poucas casas e habitantes, bem próximo às cachoeiras de Paulo Afonso, às margens do Velho Chico.

Dali, Delmiro Gouveia realiza o sonho de ter Eulina e manda um cabra seqüestra-la em Recife e traze-la para Pedra. Naquela época foi acolhido pelas famílias Torres e Luna, a primeira, do lendário Barão de Água Branca, cuja viúva veria a ser em 1922 a primeira vítima de Lampião, investido de chefe do bando de Sinhô Pereira.


Delmiro Gouveia


Estabelecido comercialmente, retoma o negócio de peles e couros e viria novamente a se tornar um dos maiores empresários do nordeste; naquela época a localidade de Pedra recebia cerca de 200 a 400 burros carregados da matéria-prima, só a empresa Iona & Cia. possuía mais de 200 animais que atuavam no transporte de diversas cargas. Foi por essa época que os irmãos Ferreira mantiveram contato com o comércio de couros e peles de Delmiro Gouveia.

Vislumbrando o potencial do Velho Chico e de Paulo Afonso, Gouveia em 1909, trouxe ao Brasil a missão Moore, americana; além de realizar contatos com as empresas Bromberg, do Rio de Janeiro, e W.R. Brand & Company, de Londres; ali encomendava projetos de eletrificação via rio São Francisco. Depois de ver o insucesso de sensibilizar o governador de Pernambuco, Gal. Dantas Barreto, para a empreitada da eletrificação de boa parte do estado e da região, acabaria redeuzindo o seu projeto inicial e mesmo assim, sendo o pioneiro na construção de usinas hidroelétricas, através da usina Angiquinho em 1913, com turbinas e geradores alemães e suíços, instalada num dos saltos da cachoeira de Paulo Afonso. A usina foi fundamental para o empreendimento de Delmiro Gouveia e os irmãos Rossbach, a Fábrica da Pedra; Cia. Agro Fabril Mercantil; unidade industrial que produzia linhas para costura, renda e bordados, da marca “Estrela”.


A Fantástica Usina de Angiquinho, sonho e realidade de Delmiro Gouveia


Delmiro Gouveia viria a modificar inteiramente o cenário da antiga Pedra que logo se transformaria em uma próspera comunidade de mais de 250 casa e uma população de cerca de 5 mil pessoas. Já no primeiro ano de seu funcionamento, com uma produção entre 1.500 e 2.000 carretéis/dia, a unidade fabril chegou a empregar cerca de 800 operários, entre homens e mulheres, chegando a trabalhar três turnos diários. Já em 1916 Delmiro Gouveia começava a exportar para países da América Latina, ali a Companhia Agrofabril empregava 3.500 pessoas. Naquela época “se dizia que grande homem no sertão não havia quatro, só três: Lampião, na valentia; Padre Cícero, na grandeza de coração; e Delmiro, no trabalho”.

Delmiro Gouveia viria a ser o responsável por outras inusitadas inovações da modernidade para a outrora pequena vila da Pedra. O automóvel, que possuia cinco; o telégrafo, a máquina de gelo, o carrossel, a tipografia, bandas de música e até o cinema estariam entre as novidades do Midas do sertão.



A Companhia Agrofabril contruiu uma vila operária, a primeira do nordeste, onde Delmiro impunha normas e regras rígidas para seus moradores. Os cuidados e rigor para com a postura e o comportamento de todos muitas vezes era fiscalizado pelo próprio Gouveia. A disciplina, a higiene, o rigor com os horários, até o fato de cuspir no chão era motivo para que o transgressor fosse multado. O estudo dos meninos e meninas era acompanhado severamente, caso faltassem, os pais eram advertidos. Tamanho rigor acabou trazendo para seus funcionários o pânico com a simples presença do coronel da Pedra. Com referência a esse rigor vamos encontrar na obra de Mario de Andrade o curioso trecho: “Macunaíma (...) pensou em morar na cidade da Pedra com o enérgico Delmiro Gouveia, porém lhe faltou ânimo. Para viver lá, assim como tinha vivido era impossível”.


Dentre as Conferências presentes ao Cariri Cangaço 2010; evento de cunho histórico, turistico e cultural, entre os dias 17 e 22 de agosto; aqui na região do Cariri, teremos os conferencistas; Professor David Bandeira, de Maceió e Professora Eloisa Farias do Distrito Federal abordando o tema: Delmiro Gouveia, o coronel dos coronéis.


Manoel Severo
cariricangaco.blogspot.com


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