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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O estranho e maravilhoso mundo doTio Milo Por:Manoel Severo

Quando ainda adolescente, elegemos a pescaria como um de nossos principais compromissos juvenis de final de semana. Maranguape, tal como o Crato, município com uma área rural imensa, já não nos satisfazia mais. Decidimos por plagas mais distantes, dentre essas havia uma fazenda de um primo em um município próximo, Paramoti. Uma fazenda realmente típica, com tudo que qualquer adorador de fazenda gosta: Cavalo, jumento, boi, vacas, sol de rachar durante o dia e brisa de matar durante a noite e claro: Os açudes, belos açudes onde dedicávamos boa parte do dia, ou quase todo o dia em busca dos desavisados seres aquáticos.

Mas, não comecei essa pequena história para falar em açudes e sim para falar de um dos personagens, aliás, de dois personagens marcantes da fazenda em Paramoti. Um era Tio Milo, um sertanejo dos bons, velho bom de guerra, com toda sua vida de setenta e poucos anos dedicada à labuta diária nos torrões sertanejos; o outro, seu Pinto. Calma, seu Pinto é realmente um Pinto, filhote de galinha e galo, esse dupla; o Pinto e Tio Milo mantinha uma relação pra lá de fraterna, era quase de pai para filho. Adorávamos ficar nos alpendres nos finais de tarde só contemplando os intermináveis diálogos mantidos entre Tio Milo e seu Pinto de estimação. Dizia ele que o Pinto era um fenômeno, elegante, simpático, brigador, sim, brigador, botava pra correr até os vira-latas dos moradores das redondezas, e cuidado com a alimentação do pinto...Era uma novela, o pinto parecia “a cachorra da mulher do padeiro” da fantástica obra de Ariano, O Auto da Compadecida: só comia cuscuz com leite e bife passado na manteiga.

Na verdade o pinto tinha lá seu encanto, não sei se era o penteado, sim; o véi Milo escovava a escassa cabeleira do pinto, claro que a obra cabeleireira só durava poucos segundos, devido a atividade frenética de ciscamento e danação da referida ave juvenil. Só uma coisa tirava Tio Milo do sério, era quando nos juntávamos e, de um em um, de maneira sutil passávamos pelo admirado galináceo mirim e “cuspíamos” no chão... ah... o destemido e festejado pinto, saía doido e lá ia ele todo animado bicar o cuspe... Pronto! Acabava ali a bela história do Pinto Adormecido e o Milo apaixonado. Era o Pinto na frente bicando o cuspe e Tio Milo correndo atrás gritando maluco:

“Pinto fi de uma égua tu num tá vendo que isso é cuspe, animal, fi de uma egua burro, sai daí pinto infeliz...!”

Eita Tio Milo ! E aí lá se ia mais uma tarde inesquecível da fazenda Paramoti...Bons tempos de menino.

Por:Manoel Severo

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