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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O HOMEM QUE ENGANOU A MORTE. Por Sivana Nunes


Diz que era uma vez um homem que tinha tantos filhos que não achava mais quem fosse  seu compadre. É difícil encontrar quem queira ser compadre de um pobre.
E nascendo mais um filhinho, saiu para procurar quem o apadrinhasse e, depois de muito andar, cansado, encontrou a Morte pelo caminho, a quem convidou.
A Morte aceitou de pronto, pois nunca havia recebido um convite desses, as pessoas sempre fugiam dela.
Quando acabou o batizado voltaram para casa e a madrinha compadecida da sorte de seu compadre, fez-lhe um convite:
- Compadre ! Quero fazer um presente ao meu afilhado e penso que é melhor enriquecer o pai. A partir de hoje, você será um médico e nunca errará o diagnóstico!
E continuando:
- Quando  for visitar um doente me verá sempre. Se eu estiver na cabeceira do enfermo, receite até água pura e ele ficará bom. Agora, se eu estiver nos pés, não faça nada porque é um caso perdido.
O homem confiante nas palavras da Morte, assim o fez. Colocou uma placa de médico na porta de sua casa e ficou esperando a primeira visita.
A coisa era tão certeira que o homem foi enricando, pois não errava um diagnóstico. A sua fama já estava chegando às cidades vizinhas.
Era só entrar no quarto do vizinho para dizer:
- Esse escapa !
Ou então:
- Não tem jeito. Podem encomendar o caixão, vai bater as botas !

Não errava uma.
Vai que um dia adoeceu o filho do rei e este mandou buscar o tal médico, oferecendo imensa riqueza pela vida do príncipe. O homem ao entrar no quarto, deparou-se com a Morte sentada nos pés da cama. Como não queria perder a fama e nem a grana oferecida pelo rei, resolveu tapear a comadre, ficando lá o dia inteiro sem pronunciar qualquer diagnóstico.
A Morte, que trabalhara a noite toda, de tão cansada que estava, acabou cochilando sentada na cadeira.
Foi quando o médico, mais que depressa, num golpe certeiro, mandou que os serviçais o ajudassem virar a cama, de modo a colocar a morte na cabeceira da cama do doente.
 E num grito só ele disse:
- Vai se salvar !
A Morte tomou um susto com aquele grito e, muito contrariada por ter sido tapeada, foi-se embora resmungando...
-Você me paga, compadre.
No dia seguinte cedinho, o médico tomava o seu café da manhã quando foi surpreendido por uma batida na porta. Era a Morte convidando o compadre a fazer-lhe uma visitinha.
- Eu vou - disse o médico - se você jurar que voltarei!
- Prometo - disse a comadre.
Então levou o homem como num relâmpago até a sua casa.
Tratou-o muito bem e mostrou toda a casa.  Mas o médico ficou meio encafifado com um salão cheio, mais cheio de velas acesas, de todos os tamanhos, algumas já apagando, outras vivas, outras esmorecendo. Não contendo a curiosidade, perguntou o que era aquilo.
- É a vida do homem- respondeu a Morte. cada criatura do universo tem uma vela acesa. Quando a vela se acaba, ele bate as botas.
O tal homem foi perguntando pela vida dos amigos, dos vizinhos, conhecidos e vendo quanto tempos lhes restava. Até que a curiosidade o fez perguntar pela sua vida. A comadre, então, mostrou um cotoquinho de vela quase no fim.
- Virgem Maria ! Essa é a minha ? Então eu estou morrendo ?
A Morte disse:
- Está com as horas contadas e foi por isso que lhe trouxe aqui, mas você me fez jurar que voltaria e vou cumprir a minha promessa e levá-lo de volta para que possa morrer em casa.
O médico quando deu acordo de si, já estava em casa deitado na cama meio moribundo e rodeado pela família.
Como último desejo pediu a comadre para que rezasse um Padre-Nosso.
- Não me leves antes, jure ?
- Juro - prometeu a Morte.
O homem começou a rezar...
- Padre-Nosso que estás no céu... E calou-se.
A Morte então disse:
- Anda compadre, eu tenho muito  que fazer, meu dia está tomado, você está demorando muito.
- Nem pense nisso, comadre! Pensa que vai me levar assim, a minha reza vai durar anos.
E pulou da cama todo serelepe.
A Morte ficou indignada por ter sido enganada duas vezes pelo compadre,  e disse:
- Tudo bem, mas eu te pego na esquina.
Anos e anos se passaram, o médico velhinho e engelhado, vinha de uma visita quando deparou com um homem morto na beirada da estrada.
- Deve ser triste morrer assim, sozinho, sem ninguém - lamentou o médico.
Tirou o chapéu de pôs-se a rezar um Padre-Nosso para o coitado. Quando pronuncoiu a palavra Amém, o morto abriu os olhos. Era a comadre morte fazendo-se de morta.
- Pensou que iria enganar-me durante o resto da vida ? Hoje você não me escapa !
 
http://silnunesprof.blogspot.com/


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