Por: Marcos Sampaio
Zeca Baleiro era um estudante no fim dos anos 1980 quando se deparou com um disco que lhe pareceu incomum. Em meio a dezenas de títulos, Cabelos de Sansão lhe chamou a atenção pela imagem de um sujeito magrelo, de cabelos longos, sentado nu sobre um leão. A curiosidade do maranhense foi maior ainda por saber qual a ligação daquela imagem com a Via-Láctea e o sorriso do rapaz que assinava como Tiago Araripe.
Sabendo que se tratava de um cearense do Crato, em meados da década de 1990, Baleiro quis conhece-lo. Pediu, então, sua produção localizasse o responsável pelas canções que tanto o haviam impressionado, como Cine cassino, Fios da light e Redemoinho. O encontro aconteceu e, em seguida, uma amizade e algumas parcerias. Esse é o começo da história do recém-lançadoBaião de Nós, disco de Tiago que sucede, 31 anos depois, o primogênito Cabelos de Sansão.

Depois, Tiago partiria para São Paulo, em busca de conhecer uma escola de música cuidada por Tom Zé. Embora a escola já tivesse fechada quando ele chegou, o baiano gostou da conversa do cearense e topou fazer alguns trabalhos juntos. Depois ele formaria a banda Papa Poluição, um sexteto de nordestinos que, embora tenha acabado, ainda hoje mantém uma carteira fiel de admiradores. Como eles realizavam muitas apresentações no teatro Lira Paulistana, Tiago acabou conhecendo a geração conhecida como Vanguarda Paulistana, que tinha como principais representantes Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção (1949 – 2003).
E foi justamente Itamar quem sugeriu que o segundo disco do selo Lira Paulistana fosse o deTiago Araripe. Foram mais de 300 horas de estúdio ao longo de um ano de gravação até queCabelos de Sansão ficasse pronto. Fazendo fusões de rock e música nordestina, com direito a uma versão de Jimi Hendrix (Little wing que virou Asa linda) feita por Augusto de Campos e uma participação sampleada dos Beatles (em Cine cassino), o disco usou o trabalho de 33 músicos, todos pagos somente com amizade. “Uma coisa boa do Lira era permitir essas colaborações. Era um disco arrojado pra época. Dificilmente alguém bancaria um negócio desses”, comenta o músico que teve seu disco relançado em 2008 pelo selo Saravá Discos, de Zeca Baleiro.

“Sempre fui marcado pelo pop, desde Luiz Gonzaga até os Beatles. Isso me fez buscar uma universalidade, que eu achei nessa fusão dos músicos pernambucanos com os do Zeca”, defineTiago, que dessa vez precisou de apenas dois meses para finalizar o trabalho. “Gostei do resultado por que me passou uma sensação de renovação. A vida vai absorvendo a gente, a batalha da sobrevivência, e, pra mim, foi se criando esse hiato. De repente, quando surgiu essa oportunidade, eu disse ‘por que não?’”, acrescenta o músico que diz ter “destampado” sua veia criativa. “Agora tenho coisa para outros discos”.
fonte: http://blog.opovo.com.br/discografia/
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