A sobrevivência do baião no Brasil torna-se evidente tanto pela visita aos cantadores de feira do interior nordestino como a intérpretes mais famosos, caso de Lirinha e o Cordel do Fogo Encantado, Otto e Lenine. Canções como "Kalu" (cantada por Chico Buarque de Holanda) e "Adeus Maria Fulô" (uma emocionante interpretação de Gal Costa, acompanhada pelo coautor da música, Sivuca, que morreu pouco depois) comprovam como essas e outras obras de Teixeira tem se mostrado atemporais.
Se uma das melhores definições do baião surge na boca do cantor popular Azulão - "é o hino do Brasil, o hino do curral" -, não é menos verdade que o ritmo continua a desafiar fronteiras.
É quase exótico assistir a uma interpretação de "Mangaratiba" em japonês por Miho Hatori em Nova York, no mesmo cenário em que faz sucesso o grupo Forró in the Dark, apresentando música brasileira para uma plateia predominantemente norte-americana.
Tudo isso desafia um preconceito contra o baião, que ainda resiste em alguns meios. A própria filha de Teixeira confessa que, na juventude, achava o gênero "cafona, brega". Uma reação nada incomum ainda hoje. A maior tarefa deste filme para a produtora, no entanto, é promover uma espécie de reconciliação com a memória do pai, com quem teve em algumas fases um relacionamento difícil.
Um dos momentos mais emotivos é uma conversa de Denise com a mãe, Margarida Jatobá (que morreu em 2007), na qual esclarece pontos obscuros e doídos de sua separação de Teixeira - que não abriu mão da guarda da filha, tentou impedi-la de ser atriz e, quando não pode, proibiu-a de usar seu sobrenome.
Um ponto alto está na seleção das imagens de arquivo, todas restauradas - detalhe que acrescentou custo e tempo de produção ao filme, mas contribui decisivamente para a maior solidez de seu conteúdo. Estão ali desde a famosa cena em que a atriz italiana Silvana Mangano interpreta "O Baião de Ana" no filme "Arroz Amargo" (1949) a imagens de Fortaleza nos anos 1920 que contextualizam a vida de Teixeira. Um tipo de contexto que Lírio Ferreira usou muito bem já em seu filme anterior, "Cartola...".
Em tempo: o título poético refere-se a uma expressão usada pelo próprio Teixeira, que dizia que "engarrafava nuvens e brumas" quando descansava, em seu sítio em Mangaratiba (RJ).
fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,documentario-resgata-compositor-de-asa-branca,495594,0.htm
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