Transcrição: Luiz Domingos de Luna.
Que anjos são estes que guerreiam contra a fome, a peste e o pecado? Que purgam, na própria carne, a transgressão do mundo? Corpos lanhados, como o de Cristo, que dialogam com os crucifixos. Ordem dos penitentes, grupo que perambula emcapuçado, pelas noites, rezando e bodejando benditos. Uma fé incondicional. Uma tradição que vem de tempos remotos, passa pela idade média e chega ao sítio Cabaceiras, Barbalha. Introduzida pelos missionários do século XVIII, reforçada quando da epidemia de cólera no século XIX, pela mediação do Padre Ibiapina.
Joaquim Mulato nasceu no Sítio Cabaceiras, Barbalha, dia 3 de março de 1920. O pai, o agricultor Pedro Mulato de Souza, “remediado”, casou com uma mulher mais velha que ele, Maria Velosa da Conceição, e tiveram dezesseis filhos (...)
Conta a crônica que a religiosidade sertaneja foi marcada pelos missionários capuchinhos, que aqui estiveram no século XVIII. A Tônica era a ameaça do fogo do inferno. Daí se reforçou esse maniqueísmo que tem origens mais fundas, e, mesmo nas escrituras, “a invenção do demônio,” é posterior ao Gênesis. A Penitência, no dizer de Joaquim Mulato, foi introduzida pelo Padre Ibiapina, sobralense, homem da elites, bacharel em direito, que abriu mão de tudo para cuidar dos pobres, criar casas de caridade no sertão. De onde saíram beatas, e disseminar um catolicismo triunfante. Moldado pela Contra-Reforma, com base na “ Missão Abreviada”, e que teria trazido os benditos, ainda hoje entoados pelos penitentes do Sitio Cabaceiras(...)
Contam que Rosemberg Cariry, quando fazia imagens do grupo, nos anos 80, teria sugerido a utilização de umas tochas para iluminar o ritual. A flagelação à noite teria pouco impacto. E as tochas embebidas em gasolina davam um tom dramático que combinava com a severidade da cerimônia (...)
O Juazeiro tem um mistério que... não sei não.
Não tem opinião muito favorável sobre o beato José Lourenço, repetindo o senso comum de que ele “botava os bestas pra trabalhar de graça” e a acusação do assédio sexual, repetida, inclusive, por Câmara Cascudo, em plena euforia do Estado Novo de Vargas.
Já com Conselheiro é mais tolerante: “era monarca, contra a República”.
O Silêncio é entrecortado pelos carros que passam em alta velocidade. Sobre as laterais do oratório, imagens inconclusas, que um dia serão cortadas com canivetes, ferros, a madeira ferida, como é ferido seu corpo de penitente, lavado com sal para purgar a Humanidade inteira.
Gostaria de parabenizar a atitude por demais louvável da Editora do Blog Cultura no cariri - Janinha Brito, pela postagem da Transcrição:JOAQUIM MULATO, PENITENTE, Do livro Artes da Tradição Mestres do povo, fotos de Francisco Sousa edições LEO. Expressão Gráfica / Laboratório de Estudos da Oralidade UFC/UECE,2005, página 141 de meu amigo o abalizado professor da Universidade Federal do Ceará, curso de Comunicação Social e do Mestrado em História Social, da mesma Universidade (desde 2.000.)
ResponderExcluirCreio ser oportuno a divuolgação dos brilhantes artigos do estudioso, pequisador e, principalmente defensor da Cultura sertaneja/ meu grande amigo - Gilmar de Carvalho.
Agradeço a Janinha Brito por, no blog cultura no cariri, a dimensão da nossa cultura tão rica e diversificada.
Luiz Domingos de Luna
Colaborador deste majestoso Blog e em transcrição do artigo já devidamente catalogado de já, os meus sinceros cumprimentos ao autor Gilmar de Carvalho por sua tenacidade em prol do desenvolvimento da epistemologia genética da querida região da Chapada do Araripe.