GERINGONÇA
Por Severino Coelho Viana
A nossa região nordestina está repleta de palavreado cômico e palavras de objetos em desuso, que são apenas guardados na nossa memória e faz parte de nossa vivência ou do nosso folclore. Por exemplo, bugiganga era uma palavra usada para objetos de pouco valor que a língua coloquial chamava de quinquilharia. Geringonça tinha o significado de coisa mal feita, ou seja, de fácil destruição, por isso, nada valia monetariamente.
Com a entrada forte do inglês no vernáculo da nossa língua portuguesa, que os originários da terra dos apaches chamam de gadget, enquanto os gringos chamam de novos objetos eletrônicos, nós, brasileiríssimos da silva, sem querermos imitar o estrangeirismo inventado pela nova tecnologia ainda chamamos ora de bugiganga ora de geringonça.
A tecnologia faz parte integrante da nossa modernidade, disso não desconhecemos, muitos eletro-eletrônicos são úteis ao nosso dia-a-dia, caseiro ou de trabalho, só que os agressores do mercado consumidor, com uma visão exagerada em nome do lucro, com certificado recebido pela faculdade do neoliberalismo e o reconhecimento pela globalização de mercado, a invenção chega ao ponto do exagero.
Nas salas de nossas residências já não vemos mais a vitrola, a radiola e o gravador de fita cassette. Nem tampouco o amontoado de discos de vinil, estes estão nas mãos de grandes colecionadores. São coisas do passado que não voltam mais, mas as antigas e novas músicas continuam acopladas no CD player, no MP-3 ou MP-4 ou no DVD fixo ou portátil. Por isso, nem tudo do passado fica perdido ou é totalmente levado ao esquecimento. Vez por outra retorna à moda da fotografia preto e branco e da calça boca de sino, evidentemente, os memoráveis adeptos não conseguem cavalgar mais no sapato cavalo de aço.
O costume dos nossos antepassados faz rememorar. A nossa chegada em qualquer casa residencial desconhecida batiam-se palmas ou o som labial de nossa voz expressava: Ou de casa? Cuja resposta era: Ou de fora! Isto não é mais preciso porque atendemos no nosso interfone (intercom phones). Ou já vemos a imagem do visitante pela câmara de filmagem.
Os advogados, economistas e contadores, além da valise preta carregada na mão, obrigatoriamente, tinham um amplo escritório, avistando-se estantes, arquivos, escarcelas, agenda, documentos e papéis diversos, nos tempos modernos usam o cell phone ou mobolie e o pen-drive, que é um dispositivo de armazenamento constituído por uma memory flash tendo aparência semelhante à de um isqueiro ou chaveiro que soluciona, com mais facilidade, o manuseio de uma papelama infindável de informações.
O dorminhoco não precisa de despertador para programar o alerta de seu sono, pois a operadora telefônica faz esse serviço ou no seu aparelho celular está programado o horário ajustado, há tempo que não se ouve o cantarolar do galo da madrugada. Todavia, aqueles que têm o sono aguçado ou são contaminado pela preguiça comprem um alarm clock, ou acordam ao som de uma loira melodiosa ou a perturbadora loira invade o seu quarto com acrobacias fustigantes.
Se você for um sonâmbulo ou falta espaço na sua casa para dormir, não é mais problema, vá ao supermercado, compre um sleeping bag, que acomoda em todo o lugar, utilizando um pequeno espaço, não é rede nem é cama, simplesmente, um saco de dormir.
As donas de casa, aos poucos, estão desprezando a vassoura e o rodo, a lixeira e a pá, estes objetos tanto são feios como vergonhosos, apesar de servirem para a limpeza ambiental. Quem se lembra dos terreiros varridos com vassoura de ramos? Quando cimento era barro vermelho pisado, seguido pelo o mosaico e hoje, a cerâmica e o porcelanato? O americanismo tomou conta do mundo, no aspecto de ousadia e invenção robótica. Eles mudaram o nome de vassoura e rodo, apelidando-os de vacuum cleaner e removes dust, que na nossa geringonça há tempo que chamamos aspirador de pó e tirador de pó.
Na escola não se usa o lápis gravite nem a arcaica lapiseira ou a gilete. O nosso tradicional lápis gravite passou a ser uma caneta de ponta recarregável que por sua vez dispensou a lapiseira, material escolar de nossas primeiras letras. O nosso adorável patinete, brinquedo feito manualmente com dois rolimãs e um pedaço de tábua, eles mudaram para roller skate, apenas modificando a aparência, logo encarecendo o preço, e, consequentemente, destruindo a criatividade da gurizada.
Nada disso que falamos acima não é mais novidade e a qualquer momento podemos ter novas surpresas. Você já imaginou, se você não morrer de verdade, porque inventou para não pagar as contas ou porque sofria de epilepsia, então, neste caso foi enterrado vivo. A catalepsia patológica ocorre em determinadas doenças nervosas, debilidade mental, histeria, intoxicação e alcoolismo. Não se preocupe, os americanos lhe ressuscitam facilmente, avise a sua família que o sepulte no a coffin with air vents and an alarm, que o coveiro de plantão verá o sinal pelo orifício do caixão quando uma bandeira é erguida, avisando novamente que você está morrendo asfixiado, ou mais claro, por falta de ar. Se o coveiro não for atento, o seu plano poderá dá tudo errado. E foi-se...
As nossas bugigangas, conhecidas na nossa região, quais sejam, enxada, foice, chibanca, picareta, martelo, machado, depois que viram sucata, o chamado ferro velho, nas mãos de um bom escultor, transformam-se numa bela obra de arte, como já tivemos oportunidade de ver numa exposição de arte.
As extravagâncias da invencionice americana, que eles chamam de gadgets, e nós de geringonça, chegam a tal ponto, que muitas vezes, nós pensamos ser brincadeira de doido, por exemplo, nail files, lixas de papel; sodastreams, gaseificador de bebidas; towel warmer, secador para toalhas; household can crusher, amassador de latinhas doméstico; egg slicers, fatiadores de ovos; overflowing dustin, que significa um transbordante cesto de lixo, que é muito parecido com nosso balaio.
A diferença de nossa geringonça e do gadget está exatamente naquilo que faz bater mais forte o coração humano, no preço, quando suas mãos batem no bolso.
João Pessoa, 08 de julho de 2010.
SEVERINO COELHO VIANA
Promotor de Justiça e escritor. Contato: scoelho@globo.com
Janinha, este Blog está se tornando desinteressante, porque algumas pessoas não estão respeitando as postagens dos demais. Postam coisas KILOMÉTRICAS como essa aqui, enchem a página principal de artigos que mais parecem um livro.
ResponderExcluirBlog, minha gente, é para pequenas notas, não para publicação de monografias, senão vira um negócio CHATÉSIMO !!!
Abraços, janinha!
Dihelson Mendonça