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sábado, 18 de dezembro de 2010

70 ANOS DE PIXINGUINHA

Pixinguinha é um nome tão importante para a música brasileira que tudo o que for possível escrever, falar, tocar ou cantar, sobre ele, será ainda pouco. Quinhentos anos de homenagens a ele não serão suficientes para alcançar a contribuição que ele deu para nossa música. Negro, pobre, subdesenvolvido, brasileiro, malandro, macumbeiro, Pixinguinha não possuía os atributos exteriores que permitiriam que um músico fosse reconhecido como um gênio da música mundial. Se tivesse nascido na França, na Áustria ou na Alemanha, branco e de olhos claros, com estudo formal, ele estaria sendo estudado em conservatórios no mundo todo, como um dos grandes gênios da música. Chegará o dia em que, quando falarmos da grandiosidade de Pixinguinha, não caberá o adjetivo brasileira depois da palavra música. Para isso, contudo, é preciso que a humanidade seja suficientemente civilizada para entender que música é música, sem mais, não importando em qual lugar do mundo tenha sido feita. Quando esse dia chegar, será desnecessário escrever ou falar sobre a biografia de Pixinguinha, porque ela será tão conhecida como a de Michael Jackson. Como esse dia não chegou, aí vai um pouco da história desse homem espetacular.
Alfredo da Rocha Vianna nasceu em 23 de abril (dia em que hoje se comemora o Dia do Choro) de 1898, no bairro da Piedade. Na realidade, o ano não se sabe se foi 1897 ou 1898, porque nem ele mesmo sabia dizer. O apelido veio ainda bebê, porque, segundo ele, contraiu bexiga na época da epidemia: “Começaram a me chamar de Bexiguinha, depois de Pexinguinha. Houve essa confusão toda e eu não sei por que fiquei como Pixinguinha”. Sua família, embora negra, pertencia à baixa classe média, e Pixinguinha estudou em colégios particulares. Todos da família eram ligados à música; o pai tocava flauta, e os irmãos, violão de sete cordas, banjo e cavaquinho. Pixinguinha se aventurava por vários instrumentos, e aprendia aqui e ali, com uns e outros. Com 12 anos, compôs o primeiro choro, Lata de Leite. Depois, conheceu o maestro Irineu de Almeida, com quem começou a ter aulas de música e de flauta. O pai dele, então, empolgado com o talento do menino, importou uma flauta de prata caríssima para ele.  Com 14 anos, Pixinguinha já tocava profissionalmente, ainda de calças curtas. Em 1917, gravou um disco na Odeon, com duas músicas que se tornaram clássicos da música brasileira até hoje: o choro Sofres porque Queres e a valsa Rosa. Em 1918, formou o grupo Os Oito Batutas, com Donga (violão), China, irmão de Pixinguinha (violão e canto), Nélson Alves (cavaquinho), Raul Palmieri (violão), Jacob Palmieri (bandola e reco-reco) e José Alves de Lima, Zezé (bandolim e ganzá). Em 1921, o milionário Arnaldo Guinle convidou os Oito Batutas para uma temporada na França. Embarcaram em 1922, e fizeram a mais importante excursão de brasileiros no exterior. Permaneceram lá por quase um ano, e foi nessa viagem que Arnaldo Guinle presenteou Pixinguinha com um saxofone, que iria surpreender o mundo da música na década de 1940. Depois, permaneceram cinco meses na Argentina, realizando inúmeras apresentações. Nesse período, Pixinguinha fez arranjos geniais para o grupo, e isso resultou em um contrato, pela RCA Victor, como arranjador. Ele fez centenas de arranjos para gravadoras nas décadas de 1930 e 1940. Como tudo o que Pixinguinha fazia era genial, seus arranjos eram tão incrivelmente originais, que ele acabou virando o criador do arranjo musical brasileiro. Em 1942, gravou os dois últimos choros na flauta: Chorei e Cinco Companheiros. Foi então que começou um período meio obscuro na vida de Pixinguinha, cheio de diz-que-me-disses e de controvérsias entre biógrafos e amigos. O fato foi que ele abandonou a flauta. Dizem que foi por causa da bebida, que faziam suas mãos tremer, e ele teve que botar uma ponte nos dentes, e perdeu a embocadura, mas nada disso explica tintim por tintim o fato. Foi um período difícil, porque ele estava endividado com uma casa que comprara para morar com a esposa e o filho. Então, em 1946, ele se uniu ao Benedito Lacerda. Este lhe propôs uma parceria: ele conseguiria as gravações das músicas de Pixinguinha, mas, em contrapartida, a autoria seria compartilhada entre os dois. Outra contrapartida foi que Benedito acabou quitando a casa do Pixinguinha. Por isso, a maioria dos choros de Pixinguinha são dele e do Benedito Lacerda, embora todo mundo saiba que quem fez mesmo o negócio foi o Pixinguinha. Então, eles gravaram: Benedito na flauta, e Pixinguinha no sax; a flauta com a melodia principal, e o sax com o contraponto. Mas o Benedito era um flautista extraordinário. Não, como alguns falam, poderia ser considerado coadjuvante, porque a flauta que ele tocou nas dezenas de músicas que a dupla gravou é extraordinária. O próprio Altamiro Carrilho, o maior flautista de choro de todos os tempos, diz que sua influência foi sempre o Benedito. Acontece que o Pixinguinha não conseguia não ser um gênio. Os contrapontos que ele fez no saxofone são uma das coisas mais lindas e criativas que a música brasileira já produziu. Quando o velho Pixinga completou 70 anos, foram muitas as homenagens. Esse disco é uma delas, prestada pela gravadora RCA-CAMDEN, com grandes sucessos do mestre, além de alguns choros menos conhecidos. Vários são interpretados por ele no sax e Benedito Lacerda na flauta, e outros por Jacob do Bandolim. A primeira faixa do Lado B tem Pixinguinha cantando. Não deixem de ler o texto da contracapa, escrito por Jacob do Bandolim. Não é exagero dizer que Pixinguinha é santo. Viva São Pixinguinha, e, com ele, viva toda a música brasileira.


Lado 1

1-     Um a zero – Choro (Pixinguinha)
2-     Marilene – Choro (Pixinguinha-Benedito Lacerda)
3-     Proezas de Solon -  Choro (Pixinguinha-Benedito Lacerda)
4-    Teu aniversário – Choro (Pixinguinha)
5-     Segura êle – Choro (Pixinguinha-Benedito Lacerda)
6-     Marreco quer água – Polca (Pixinguinha)

Lado 2

1-    Yaô – Lundu Africano (Pixinguinha-Gastão Viana)
2-   Cochichando – Choro (Pixinguinha)
3-   Sofres porque queres - Chôro (Pixinguinha-Benedito Lacerda)
4-   Pagão – Choro (Pixinguinha-Benedito Lacerda)
5-   Vagando – Choro (Pixinguinha-Benedito Lacerda)
6-   Paciente – Choro (Pixinguinha)

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FONTE: ACERVOS E ORIGEM

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