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segunda-feira, 18 de julho de 2011

QUANDO A BANDA PASSAR

Luiz Domingos de Luna*


A História humana é permeada pelo acúmulo de conhecimentos do passado, a ação do presente, não muito raro, a visionários que a força elástica do futuro por razões que estão na intimidade do ser dão o pontapé inicial ao vindouro.

No distante ano de 1981, quando a cidade de Aurora ainda patinava no formato de sua infraestrutura, todo o arsenal para a civilidade urbana, ainda um sonho a bailar na mente dos otimistas, lá vem àquela forte figura, contrariando a tonalidade do presente, a colocar a pedra última do triangulo da civilidade aurorense – A Banda de Música do Senhor Menino Deus, como uma escola a levar o facho da luz a uma juventude de múltiplas carências, ainda no processo de construção da base piramidal.

Quem viveu o momento sabe que o sonho do humanizador social, ativista cultural, e sacerdote na expressão maior – Padre Francisco França – tinha um quê de Utopia, vez as colunas mestras de desenvolvimento social ser também uma utopia, na verdade, tudo era utopia mesmo, assim a do padre, era mais uma no oceano de inúmeras.

No dia 29 de abril de 1982 fui convidado para receber os instrumentos musicais na casa Paroquial, vez a solicitação do padre ter sido atendida prontamente pelo Ministério de Educação e Cultura. O Momento foi registrado por um grande paradoxo, ora, a cada instrumento que conferia um grito de emoção, lágrimas de felicidade que tocava suavemente o chão, como se existisse também uma alegoria na força gravitacional terrena.

Tudo para mim era motivo de felicidade plena, o cheiro dos instrumentos, os caixotes, a embalagem perfeita, na verdade tudo perfeito.
Quando dei conta de minha emoção plenamente exagerada, olhei ao lado e vi o idealizador da obra taciturno, triste, com uma dor na alma, uma expressão quase que fúnebre, ficou logo claro o descompasso espiritual entre mim e o arquiteto do projeto. Uma situação emblemática, uma dialética soava no ar, parecia ser um sonho realizado para mim e uma decepção para o padre.
Diante desta situação vexatória e paradoxal, confesso que para mim um pouco constrangedora, enxuguei as lagrimas de felicidades e entrei na atmosfera da dor espiritual que acometia meu mestre.

O Meu fluxo pensamental em pane, pois como conciliar a minha emoção contagiante com a tristeza espiritual marcante do momento. Pensei, devo estar agindo errado nesta situação, -esta minha alegria deve ser falsa, ou eu estou enganando a mim mesmo, Como pode? Pois eu sabia plenamente que a tristeza do padre era verdadeira, nunca passou a idéia da tristeza do mestre ser falsa, vez a sua integridade moral está acima da minha a anos luz!
Assim criei coragem e perguntei
Padre França por que tanta tristeza?
-Porque estou pensando
Como assim?
Será se daqui a 30 anos terão jovens para tocar estes instrumentos ou a ferrugem vai tomar conta deles.
Padre, a ferrugem tomar conta dos Jovens?
Não – Eu pensei dos instrumentos musicais.
Tombei na coluna do silêncio e não falei mais nada.

(*) Professor da Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra – Aurora –Ceará.


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