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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Caldeirão dos Mitos!


Eu vi o céu à meia-noite
Se avermelhando num clarão
Como o incêndio anunciado
No Apocalipse de São João
Porém não era nada disso
Era um corisco, era um lampião.
Eu vi um risco nos espaços;
Era o revôo de um sanhaçu;
Eu vi o dia amanhecendo
No ronco do maracatu;
Não era a lança de São Jorge,
Era o espinho do mandacaru.
Vi um profeta conduzindo
Pros arraias as multidões
Pra construir um chão sagrado
Com espingardas e facões;
Não foi Moisés na Palestina,
Foi Conselheiro andando nos sertões.
Eu vi um som na escadaria
Do re-mi-fa-sol-la-di-do;
Não era o eco das trombetas
De Josué em Jericó;
Era um fole de oito-baixos
A toca numa noite de forró.
Vi um magrelo amarelado
Passando a perna no patrão;
Não foi ninguém na Inglaterra
Nem de Paris nem do Japão;
Era Pedro Malazarte, era João Grlio
E era Canção.
Eu vi um som ao meio-dia
No meio do chão do Ceará;
Não era o coro dos Arcanjos
Nem era a voz de Jeová:
Era uma cascavel, armando
O bote balançando maracá.
Vi uma mão fazer o barro
Um homem forte, um homem nu;
Um homem branco como eu
Um homem preto como tu;
Porém não foi a mão de Deus;
Foi Vitalino de Caruaru.

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