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quarta-feira, 2 de junho de 2010
O SOM MELODIOSO DE UAKTI.

Despeitados e com ciúmes de Uakti, os homens da aldeia se uniram para matá-lo. A violência foi tão grande, que do seu corpo só restou alguns pedaços, rapidamente enterrados próximo da aldeia.
Só que para surpresa dos Tucanos, primaveras mais tarde, exatamente naquele local onde esse ser mágico fora brutalmente assassinado e enterrado, brotaram plantas cilíndricas e longas, curiosamente ocas: nascia ali um bambuzal. E quando o vento soprava entre os bambus, produzia o mesmo som encantador de Uakti.Foi então, que os homens da aldeia se deram conta que poderiam produzir instrumentos para seduzirem as mulheres.
Dessa forma, passaram a fazer flautas de bambu para encantar suas amadas com a beleza do som do instrumento.
fonte:http://silnunesprof.blogspot.com/
A FESTA DO PAU DA BANDEIRA.

"A festa de Santo Antônio de Barbalha é de primeira", já dizia o sanfoneiro Luiz Gonzaga. “É um fuzuê danado pra ver o pau da bandeira”. E no meio desse fuzuê, tem banho de lama, bastante cachaça e muita vontade das moças de arrumar um bom partido. Ritual é o que não falta. A festa, conhecida também como "Pau da Bandeira", acontece no mês de junho com algumas particularidades:


E observa: “Tudo depende da fé".
Portanto, se você é solteirona e deseja arranjar um casamento, corra porque ainda dá tempo. Os festejos se encerram no dia 13 de junho - dia do santo - com a procissão.

Quanto às piadas de duplo sentido com o pau da bandeira, o pároco da cidade diz que já se acostumou, e garante que existe muito folclore em meio à festa.
fonte: http://silnunesprof.blogspot.com/
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Sonhando com o retorno da Estrada de Ferro Mossoró-Sousa


Sonhando com o retorno da Estrada de Ferro Mossoró-Sousa
(*) José Romero Araújo Cardoso
Pensar a produção econômica é pensar o racional, principalmente no quesito meios de transportes. A produção, sobretudo perecível, necessita ser escoada com o mínimo de custos e de obstáculos.
O sonho de Ulrick Graff foi a construção de uma via férrea que ligasse Mossoró ao São Francisco, objetivando viabilizar, sobretudo, o escoamento da produção salineira para as regiões meridionais do Brasil.
Somente no final da década de cinqüenta do século passado, após tentativas frustradas de conseguir tal desiderato, partidas de mentes lúcidas como Jerônimo Rosado e Felipe Guerra, entre outros, foi que os trilhos da velha ferrovia do oeste potiguar chegavam às portas de Sousa, Estado da Paraíba.
Se isso tivesse ocorrido quando os pioneiros começaram a arquitetar o traçado da ferrovia, a situação privilegiada de Mossoró no cenário econômico regional e nacional teria sido mais enfática.
O fluxo da produção paraibana em direção a Mossoró teria sido multiplicado sensivelmente. O trabalho árduo dos velhos tangerinos e as perdas decorrentes dos riscos das viagens, com certeza, teriam diminuído significativamente.
Nenhuma nação rica e industrializada prescinde de suas ferrovias, pois os transportes são racionalizados ao extremo para que a produção de bens e de serviços cumpra sua efetiva racionalidade. É marca indelével na postura do Estado e do empresariado em países desenvolvidos.
Então, o que falar sobre a prioridade ao transporte rodoviário em um espaço marcado pela dinâmica da produção da fruticultura tropical irrigada, do sal e do petróleo? Posso destacar inúmeros benefícios de um transporte que permita viabilizar a produção de bens em larga escala, exigente de uma infraestrutura de grande porte que não torne caótico o cotidiano das pessoas.
Estradas esburacadas e a falta de segurança devido ao tráfego intenso de veículos, sobretudo de grande calado, são apenas exemplos simples dos transtornos causados pela opção desastrada de priorizar o objetivo das transnacionais, principais beneficiárias da desdita econômica de uma região.
Não adianta liberar recursos para recuperar estradas que serão destruídas em poucos meses, graças ao fluxo constante de veículos pesados que em um vai-e-vem contínuo deram novas nuances ao cotidiano local, tendo substituído o silvo harmônico das locomotivas pelo ensurdecedor som das buzinas apressadas.
Temos também que ser racionais, pois precisamos repensar a Estrada de Ferro Mossoró-Sousa como expressão prioritária de todos as propostas públicas e privadas. A ferrovia é a única forma de revitalizar economicamente o município e a região no que diz respeito às exigências sensatas pertinentes aos meios de transportes adequados para determinadas situações que envolvem a produção econômica, caso da fruticultura tropical irrigada.
Mas não basta apenas revitalizar a Estrada de Ferro Mossoró-Sousa se não houver modernização, com a dotação de infraestrutura que atenda a população e as empresas, condição indispensável para que a competitividade da produção local não fique prejudicada.Com a volta do trem, Mossoró, o Estado do Rio Grande do Norte, o Estado da Paraíba, o Nordeste e o Brasil só tem a ganhar, trazendo ainda o romantismo de outrora através da retomada do modus vivendi dos usuários deste importante meio de transporte que nunca pode ser relegado ao ostracismo.
(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Aboio dos vaqueiros: Patrimônio imaterial do nordeste brasileiro



Aboio dos vaqueiros: Patrimônio imaterial do nordeste brasileiro
(*) JOSÉ ROMERO ARAÚJO CARDOSO
Os semitas tiveram papel impressionante na formação étnico-cultural do homo nordestinus. Os judeus, perseguidos pela inquisição, principalmente depois da expulsão dos holandeses do nordeste canavieiro, refugiaram-se em lugares ermos nos confins do sertão, transmitindo de geração a geração traços identificadores da cultura desse povo, a exemplo do registrado na genealogia e na cultura do núcleo cristão-novo de Venha-Ver, localizado no alto oeste do Estado do Rio Grande do Norte.
Os árabes, parentes próximos dos descendentes de Abraão, em virtude de procederem da linhagem de Ismael, também filho do patriarca, legaram ao nordestino a mais fantástica das sonoridades regionais – o aboio.
Nas quebradas do sertão não há como deixar imperceptível a passagem de uma boiada conduzida por vaqueiros. O ambiente se enche dos ecos da tradição com o aboio dos tangedores do gado que corre célere na poeira que se levanta a inundar o ambiente marcante da quentura do sertão.
O aboio está salvo da aculturação? Com os números apresentados pelo último censo demográfico, quando uma cidade de porte médio como Mossoró apresenta um percentual de 93,1% de sua população total habitando a zona urbana, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) conforme diversos censos realizados, os quais atestam a permanência, com pequena alteração, do percentual estatístico. Assim, os vínculos com o campo vão se perdendo gradativamente.
Certa vez, dirigindo pelas inúmeras estradas de barro existente na capital do oeste potiguar, dei passagem para uma boiada. Qual espanto quando o vaqueiro apareceu montado em uma bicicleta tangendo o gado? Isso demonstra como a modernidade tem influenciado nas tradições nordestinas, sobretudo as que caracterizam o semiárido.
Ouvir caprichado aboio de vaqueiro é o mesmo que sentir no peito pungente saudade da saga heróica de Luiz Gonzaga, buscando a lembrança oportuna de Raimundo Jacó, campeador de gado das caatingas pernambucanas, covardemente assassinado, mas que está imortalizado em culto à sua memória, o qual extrapolou os limites de sua região.
Poucos sabem, nos dias de hoje, sobre a poesia que sai das cordas vocais de um aboiador, penalizado pelo rigor de uma seca castigante que destrói vidas. A linguagem dos sons, dos gestos, da cadência e do ritmo do guturalismo que as gargantas cansadas já não emitem com tanta precisão é como uma prece de resistência às mudanças bruscas e vertiginosas que atingem as tradições da pecuária nordestina.
A mídia dita regras de conduta, elevando ao panteão falsos defensores do nordeste brasileiro, os quais intercalam pretensa divulgação das tradições culturais com os ecos da modernidade. Causa pena e revolta ver o povo nordestino se rebolando ao som de guitarras que se articulam com instrumentos tradicionais como a sanfona, o triângulo e a zabumba.
Defendo com veemência que o aboio dos vaqueiros seja elevado à categoria de patrimônio imaterial do nordeste brasileiro, pois personifica magistralmente a acústica laborativo-cultural de um povo forte e heróico.
(*) JOSÉ ROMERO ARAÚJO CARDOSO. Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
(*) JOSÉ ROMERO ARAÚJO CARDOSO
Os semitas tiveram papel impressionante na formação étnico-cultural do homo nordestinus. Os judeus, perseguidos pela inquisição, principalmente depois da expulsão dos holandeses do nordeste canavieiro, refugiaram-se em lugares ermos nos confins do sertão, transmitindo de geração a geração traços identificadores da cultura desse povo, a exemplo do registrado na genealogia e na cultura do núcleo cristão-novo de Venha-Ver, localizado no alto oeste do Estado do Rio Grande do Norte.
Os árabes, parentes próximos dos descendentes de Abraão, em virtude de procederem da linhagem de Ismael, também filho do patriarca, legaram ao nordestino a mais fantástica das sonoridades regionais – o aboio.
Nas quebradas do sertão não há como deixar imperceptível a passagem de uma boiada conduzida por vaqueiros. O ambiente se enche dos ecos da tradição com o aboio dos tangedores do gado que corre célere na poeira que se levanta a inundar o ambiente marcante da quentura do sertão.
O aboio está salvo da aculturação? Com os números apresentados pelo último censo demográfico, quando uma cidade de porte médio como Mossoró apresenta um percentual de 93,1% de sua população total habitando a zona urbana, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) conforme diversos censos realizados, os quais atestam a permanência, com pequena alteração, do percentual estatístico. Assim, os vínculos com o campo vão se perdendo gradativamente.
Certa vez, dirigindo pelas inúmeras estradas de barro existente na capital do oeste potiguar, dei passagem para uma boiada. Qual espanto quando o vaqueiro apareceu montado em uma bicicleta tangendo o gado? Isso demonstra como a modernidade tem influenciado nas tradições nordestinas, sobretudo as que caracterizam o semiárido.
Ouvir caprichado aboio de vaqueiro é o mesmo que sentir no peito pungente saudade da saga heróica de Luiz Gonzaga, buscando a lembrança oportuna de Raimundo Jacó, campeador de gado das caatingas pernambucanas, covardemente assassinado, mas que está imortalizado em culto à sua memória, o qual extrapolou os limites de sua região.
Poucos sabem, nos dias de hoje, sobre a poesia que sai das cordas vocais de um aboiador, penalizado pelo rigor de uma seca castigante que destrói vidas. A linguagem dos sons, dos gestos, da cadência e do ritmo do guturalismo que as gargantas cansadas já não emitem com tanta precisão é como uma prece de resistência às mudanças bruscas e vertiginosas que atingem as tradições da pecuária nordestina.
A mídia dita regras de conduta, elevando ao panteão falsos defensores do nordeste brasileiro, os quais intercalam pretensa divulgação das tradições culturais com os ecos da modernidade. Causa pena e revolta ver o povo nordestino se rebolando ao som de guitarras que se articulam com instrumentos tradicionais como a sanfona, o triângulo e a zabumba.
Defendo com veemência que o aboio dos vaqueiros seja elevado à categoria de patrimônio imaterial do nordeste brasileiro, pois personifica magistralmente a acústica laborativo-cultural de um povo forte e heróico.
(*) JOSÉ ROMERO ARAÚJO CARDOSO. Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
A Estrela Oculta do Sertão: Por José Romero Araújo Cardoso
Importante e valioso documentário, por título “A Estrela Oculta do Sertão”, foi produzido na região nordeste, cujo destaque encontra-se no enfoque às tradições judaicas presentes nas práticas culturais do povo nordestino.
Protagonizado por médico paraibano de nome Luciano Oliveira, que por acaso perguntou a uma parenta sobre seus antepassados, obtendo como resposta às indagações provas suficientes, do vínculo com a antiga sefarade, que mudaram sua vida, “A Estrela Oculta do Sertão” afirma a veracidade de muitas histórias familiares espalhadas pelas quebradas do sertão nordestino.
Luciano Oliveira e sua equipe palmilharam diversos estados da região, intuindo comprovar a tese de que a genealogia de muitas famílias nordestinas está indissociavelmente atrelada ao sangue judeu.
Buscando subsídios em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte, o protagonista desvenda antiqüíssimas práticas culturais presentes no cotidiano do povo nordestino, como o costume de não varrer a casa passando lixo pela porta da frente, pois em um passado distante esta, na porta dos antepassados, continha um dos mais sagrados símbolos do judaísmo – A Mezuzá – pequena tabuleta de madeira impecavelmente trabalhada, contendo na parte de fora a letra SHADAI, primeira do Nome do Eterno Todo Poderoso, em hebraico, sendo que dentro contém os salmos, também na língua principal falada pelos judeus. Com a aculturação e a cristianização, quando da ênfase à efetivação dos cristãos-novos, a Mezuzá foi substituída pela cruz, indispensável em portas espalhadas por toda região.
Costumes presentes no dia-a-dia dos nordestinos, como o hábito de colocar pedras em cruzeiros no meio das estradas, também são esmiuçados no documentário, pois esta é uma das mais importantes manifestações de condolência judaica.
Nathan Wachtel, eminente professor do Collège de France, publicou importante livro, ainda em francês, sobre as tradições nordestinas, provando que as mesmas são eminentemente judaicas. O livro do professor Wachtell intitula-se La Foi Du Souvenir (A fé da lembrança)
Municípios localizados nos ermos distantes do sertão, como o pequeno Venha-Ver (corrutela de “Vir Chaver”, em hebraico, ou seja, “Venha Amigo”, a inquisição não lhe pega por aqui), localizado no alto oeste potiguar, foram visitados por Luciano Oliveira e equipe, cujo destaque encontra-se justamente na comprovação de que os moradores do lugarejo norte-riograndense descendem dos fugitivos da perseguição inquisitorial que se instalou em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte após a expulsão dos holandeses.
No estado da Paraíba, há ênfase à visita de Luciano Oliveira e equipe à cidade de Pedra Lavrada. O protagonista é da família Cordeiro desse município, cujas ramificações se espraiam pelo estado do Rio Grande do Norte, chegando ainda a influenciar na denominação toponímica de localidade chamada São José dos Cordeiros.
Sobrenomes comuns às famílias nordestinas são de origem judia, pois quando da grande conversão forçada, no final do século XV, houve pacto entre os judeus para adotarem nomes de plantas, árvores, animais, lugar de origem,etc., objetivando se reconhecerem no futuro.
Oliveira, Cardoso, Fernandes Pimenta, Gurgel, Carneiro, Alencar, Mangueira, Nogueira, Carvalho, Pereira, etc., são exemplos de sobrenomes com vínculos judaicos, presentes, na região nordeste e outras regiões, bem como países, em listas telefônicas, nomes de ruas, chamadas de salas de aulas e muitos outros
O documentário “A Estrela Oculta do Sertão” peca em não falar sobre a fase áurea desfrutada pelos judeus quando da dominação holandesa (1630-1654), pois a resposta para a presença dos descendentes desse povo na região nordeste encontra-se justamente na tolerância que os mandatários da Companhia das Índias Ocidentais manifestaram quando da conquista do nordeste brasileiro, pois necessitavam de capital para levar avante a experiência concentrada na exponencial relação com o açúcar nordestino,na época impossibilitado de ser comercializado na Europa pelos holandeses devido rixa com os espanhóis.
A expulsão holandesa do nordeste brasileiro fez com que verdadeira “caça às bruxas” fosse instalada, com a requisição lusitana da presença da Santa Inquisição. A importância da presença judia no nordeste era tão proeminente que a primeira Sinagoga das Américas foi construída no Recife.
Com a celeuma causada devido à saída batava, o rabino da sinagoga pernambucana, de nome Isaac Aboab da Fonseca, conseguiu comprar, através de quotas com os membros da comunidade, um navio no qual rumaram para o norte, tendo chegado à costa nordeste dos atuais EUA, onde ajudam a fundar um núcleo populacional que levaria o nome de Nova Amsterdão,hoje cidade de Nova York. O rabino da sinagoga Novayorkina chama-se Abraão Cardoso, descendente dos judeus pernambucanos que migraram, fugindo das perseguições inquisitoriais.
Grandes personalidades que fazem parte do seleto rol dos estudos judaicos no Brasil e no mundo foram entrevistadas quando da produção de “A Estrela Oculta do Sertão”, a exemplo de Nathan Wachtell, Anita Novinsky, Paulo Valadares, João Medeiros Filho e família, Marcos Filgueira, Odmar Pinheiro Braga, etc.
A Estrela a qual se refere o título do documentário, obviamente, é o hexagrama dos judeus, a Estrela de David, com seis pontas, símbolo contido na bandeira do Estado de Israel, o mesmo que se encontra disfarçada em uma rosa no frontispício do velho casarão construído no amo de 1870, em Pombal (PB), na atual rua Coronel João Leite, propriedade, em um passado não muito distante, dos criptojudeus pombalenses Aarão Ignácio Cardoso D´Arão e sua sobrinha e esposa Facunda Cardoso de Alencar.
O documentário chama a atenção para uma questão delicada que é a situação dos "anussins", os "marranos", convertidos que buscam o regresso, ou seja, os descendentes desses fugitivos que escaparam da região litorânea e buscaram abrigo nos mais longínquos recônditos espalhados nas quebradas do sertão nordestino.
Para quem se interessa pelas questões pertinentes ao nordeste brasileiro, “A Estrela Oculta do Sertão” surgiu como um dos mais importantes documentários sobre a região nordeste, devido elucidar e responder antigas indagações sobre as origens e as práticas culturais da população que aqui habita.
(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Contato: romero.cardoso@gmail.com.
Protagonizado por médico paraibano de nome Luciano Oliveira, que por acaso perguntou a uma parenta sobre seus antepassados, obtendo como resposta às indagações provas suficientes, do vínculo com a antiga sefarade, que mudaram sua vida, “A Estrela Oculta do Sertão” afirma a veracidade de muitas histórias familiares espalhadas pelas quebradas do sertão nordestino.
Luciano Oliveira e sua equipe palmilharam diversos estados da região, intuindo comprovar a tese de que a genealogia de muitas famílias nordestinas está indissociavelmente atrelada ao sangue judeu.
Buscando subsídios em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte, o protagonista desvenda antiqüíssimas práticas culturais presentes no cotidiano do povo nordestino, como o costume de não varrer a casa passando lixo pela porta da frente, pois em um passado distante esta, na porta dos antepassados, continha um dos mais sagrados símbolos do judaísmo – A Mezuzá – pequena tabuleta de madeira impecavelmente trabalhada, contendo na parte de fora a letra SHADAI, primeira do Nome do Eterno Todo Poderoso, em hebraico, sendo que dentro contém os salmos, também na língua principal falada pelos judeus. Com a aculturação e a cristianização, quando da ênfase à efetivação dos cristãos-novos, a Mezuzá foi substituída pela cruz, indispensável em portas espalhadas por toda região.
Costumes presentes no dia-a-dia dos nordestinos, como o hábito de colocar pedras em cruzeiros no meio das estradas, também são esmiuçados no documentário, pois esta é uma das mais importantes manifestações de condolência judaica.
Nathan Wachtel, eminente professor do Collège de France, publicou importante livro, ainda em francês, sobre as tradições nordestinas, provando que as mesmas são eminentemente judaicas. O livro do professor Wachtell intitula-se La Foi Du Souvenir (A fé da lembrança)
Municípios localizados nos ermos distantes do sertão, como o pequeno Venha-Ver (corrutela de “Vir Chaver”, em hebraico, ou seja, “Venha Amigo”, a inquisição não lhe pega por aqui), localizado no alto oeste potiguar, foram visitados por Luciano Oliveira e equipe, cujo destaque encontra-se justamente na comprovação de que os moradores do lugarejo norte-riograndense descendem dos fugitivos da perseguição inquisitorial que se instalou em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte após a expulsão dos holandeses.
No estado da Paraíba, há ênfase à visita de Luciano Oliveira e equipe à cidade de Pedra Lavrada. O protagonista é da família Cordeiro desse município, cujas ramificações se espraiam pelo estado do Rio Grande do Norte, chegando ainda a influenciar na denominação toponímica de localidade chamada São José dos Cordeiros.
Sobrenomes comuns às famílias nordestinas são de origem judia, pois quando da grande conversão forçada, no final do século XV, houve pacto entre os judeus para adotarem nomes de plantas, árvores, animais, lugar de origem,etc., objetivando se reconhecerem no futuro.
Oliveira, Cardoso, Fernandes Pimenta, Gurgel, Carneiro, Alencar, Mangueira, Nogueira, Carvalho, Pereira, etc., são exemplos de sobrenomes com vínculos judaicos, presentes, na região nordeste e outras regiões, bem como países, em listas telefônicas, nomes de ruas, chamadas de salas de aulas e muitos outros
O documentário “A Estrela Oculta do Sertão” peca em não falar sobre a fase áurea desfrutada pelos judeus quando da dominação holandesa (1630-1654), pois a resposta para a presença dos descendentes desse povo na região nordeste encontra-se justamente na tolerância que os mandatários da Companhia das Índias Ocidentais manifestaram quando da conquista do nordeste brasileiro, pois necessitavam de capital para levar avante a experiência concentrada na exponencial relação com o açúcar nordestino,na época impossibilitado de ser comercializado na Europa pelos holandeses devido rixa com os espanhóis.
A expulsão holandesa do nordeste brasileiro fez com que verdadeira “caça às bruxas” fosse instalada, com a requisição lusitana da presença da Santa Inquisição. A importância da presença judia no nordeste era tão proeminente que a primeira Sinagoga das Américas foi construída no Recife.
Com a celeuma causada devido à saída batava, o rabino da sinagoga pernambucana, de nome Isaac Aboab da Fonseca, conseguiu comprar, através de quotas com os membros da comunidade, um navio no qual rumaram para o norte, tendo chegado à costa nordeste dos atuais EUA, onde ajudam a fundar um núcleo populacional que levaria o nome de Nova Amsterdão,hoje cidade de Nova York. O rabino da sinagoga Novayorkina chama-se Abraão Cardoso, descendente dos judeus pernambucanos que migraram, fugindo das perseguições inquisitoriais.
Grandes personalidades que fazem parte do seleto rol dos estudos judaicos no Brasil e no mundo foram entrevistadas quando da produção de “A Estrela Oculta do Sertão”, a exemplo de Nathan Wachtell, Anita Novinsky, Paulo Valadares, João Medeiros Filho e família, Marcos Filgueira, Odmar Pinheiro Braga, etc.
A Estrela a qual se refere o título do documentário, obviamente, é o hexagrama dos judeus, a Estrela de David, com seis pontas, símbolo contido na bandeira do Estado de Israel, o mesmo que se encontra disfarçada em uma rosa no frontispício do velho casarão construído no amo de 1870, em Pombal (PB), na atual rua Coronel João Leite, propriedade, em um passado não muito distante, dos criptojudeus pombalenses Aarão Ignácio Cardoso D´Arão e sua sobrinha e esposa Facunda Cardoso de Alencar.
O documentário chama a atenção para uma questão delicada que é a situação dos "anussins", os "marranos", convertidos que buscam o regresso, ou seja, os descendentes desses fugitivos que escaparam da região litorânea e buscaram abrigo nos mais longínquos recônditos espalhados nas quebradas do sertão nordestino.
Para quem se interessa pelas questões pertinentes ao nordeste brasileiro, “A Estrela Oculta do Sertão” surgiu como um dos mais importantes documentários sobre a região nordeste, devido elucidar e responder antigas indagações sobre as origens e as práticas culturais da população que aqui habita.
(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Contato: romero.cardoso@gmail.com.
Entrevista com o Dr. João Carlos Campos Wisnesky, ex-guerrilheiro do Partido Comunista do Brasil nas selvas do Araguaia
Por José Romero Araújo Cardoso*
Militante comunista nas décadas de sessenta e setenta do século passado, o médico acupunturista Dr. João Carlos Campos Wisnesky participou ativamente do movimento guerrilheiro encabeçado pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B) nas selvas do Araguaia. Escapou milagrosamente da devassa efetivada pelas Forças Armadas quando da mais brutal repressão levada avante pela Ditadura Militar. Além das aventuras na floresta amazônica, Dr. João Carlos Wisnesky foi jogador profissional, conhecido por Paquetá, tendo defendido famosos times no Brasil e no Exterior. Formado em medicina, depois de verdadeira odisséia, devido a repressão e perseguições impostas pelos militares, escolheu Mossoró (Estado do Rio Grande do Norte) para residir e clinicar. Mantém na capital do oeste potiguar, na rua Melo Franco, número 197, de frente à lateral do Tiro de Guerra, a conhecida Clínica da Dor, realizando trabalhos acupunturistas. Foi como paciente que fiquei sabendo de sua história de vida. Nessa entrevista, Dr. João Carlos Campos Wisnesky nos conta um pouco de sua trajetória:
José Romero Cardoso: Onde e quando o senhor nasceu?
JCCW: Nasci no dia dois de junho de 1943, na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro.
José Romero Cardoso: Seus pais militavam em algum movimento de massa?
JCCW: Não, meus pais são de tradição conservadora, católica. Meu pai descendia de poloneses, ele e a família eram bastante ligados á igreja.
José Romero Cardoso: Como foi sua formação educacional básica?
JCCW: As primeiras letras eu as aprendi na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro.
José Romero Cardoso: Como teve início a sua militância?
JCW: Sempre estive presente nos movimentos da UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), da UNE (União Nacional dos Estudantes), etc. No movimento de 1968, quando da instituição dos anos de chumbo, principalmente com a decretação do AI-5 pelos militares, começou a minha efetiva militância partidária.
José Romero Cardoso: Quando do golpe de 64, o senhor já era militante do Partido Comunista do Brasil?
JCW: Não, quando do golpe de 1964 ainda não era militante do Partido Comunista do Brasil, aos poucos fui enveredando por esse caminho. Comecei a militar no partido em 1969.
José Romero Cardoso: Como e quando foi sua chegada na região do Araguaia?
JCW: Cheguei à região do Araguaia em outubro de 1971, quando a experiência guerrilheira já estava bem avançada, pois os quadros do partido começaram a ser deslocados para a selva no ano de 1966. O codinome com o qual fiquei conhecido na guerrilha do Araguaia foi Paulo Paquetá.
José Romero Cardoso: Como era o cotidiano dos membros do PC do B na região do Araguaia?
JCW: No geral o cotidiano dos membros do Partido Comunista do Brasil na região do Araguaia era consumido com trabalhos na roça, o que considerei verdadeiro desperdício.
José Romero Cardoso: Como era a relação com os moradores da região?
JCW: O contato com os moradores era feito pelo comando e era proibido para os guerrilheiros conversar com a população local. Tenho a opinião que isso significou um grande prejuízo, um desperdício de militantes preparados. Quando cheguei na região do Araguaia achei tudo muito estranho. Como fazer um exército popular se não podíamos nos comunicar com a população? Falei isso ao comando e não me responderam.
José Romero Cardoso: Quais as principais expressões do partido que se encontravam na região do Araguaia?
JCW: As principais expressões do partido que se encontravam na região do Araguaia eram formados por gente do quilate de João Carlos Haas Sobrinho, Oswaldo Orlando da Costa, o lendário Oswaldão, João Amazonas, Maurício e seu filho André Grabois, entre outros. No que tange aos militantes, eram formados pelos principais quadros do setor estudantil, como José Genoino e Glênio Sá, pessoas treinadas no diálogo com o povo.
José Romero Cardoso: Como foi o início da repressão militar?
JCW: A repressão se iniciou quando o serviço de informação dos militares começou a infiltrar espiões, entre os quais o mais conhecido, temido e odiado era o major Sebastião Curió. Ele e sua equipe abriram caminho para que os militares começassem a adentrar a selva em perseguição aos guerrilheiros e às pessoas que nos ajudavam
José Romero Cardoso: Quando começaram os combates?
JCW: Os comandantes guerrilheiros dividiram nossas forças em três destacamentos. Os combates entre as Forças Armadas e os guerrilheiros nas selvas do Araguaia tiveram início no dia 12 de abril de 1972, quando cerca de vinte soldados atacaram ponto de apoio do nosso Destacamento A, em São Domingos do Araguaia. No dia 14 de abril as Forças Armadas atacaram novamente, dessa vez foi contra o Destacamento C.
José Romero Cardoso: O senhor foi comandado por qual chefe guerrilheiro e como era a convivência do grupo?
JCW: Eu fazia parte do Destacamento A, comandado pelo médico gaúcho João Carlos Haas sobrinho.
José Romero Cardoso: Quais os principais combates que o senhor participou?
JCW: Foram muitos combates, lembro-me bem de um do qual o comandante João Carlos Haas Sobrinho saiu ferido no peito.
José Romero Cardoso: Como era o dia-a-dia dos guerrilheiros sob a ameaça constante da repressão militar?
JCW: Era um dia-a-dia de medo, terror físico e psicológico e muitas incertezas, pois as ordens de Brasília foram para que não ficasse pedra sobre pedra na região do Araguaia controlada pelos guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil. Depois dos primeiros combates houve nítida intensificação dos rigores da repressão, ficando a mesma cada vez mais brutal.
José Romero Cardoso: Quem o senhor cita como os mais heróicos na defesa do território sob controle dos militantes do PC do B?
JCW: Todos, indistintamente.
José Romero Cardoso: E os mais covardes? Houve covardia dos militantes do PC do B na guerrilha do Araguaia?
JCW: Não, não houve covardia no Araguaia.
José Romero Cardoso: Quais as lembranças que o senhor guarda dos comandantes Oswaldão, Maurício Grabois e João Carlos Haas Sobrinho?
JCW: Lembranças boas, de homens serenos e tranqüilos, amigos de verdade.
José Romero Cardoso: Quando o senhor foi preso?
JCW: Fui preso não no Araguaia, mas em Anápolis, no Goiás, pela Polícia Civil. Consegui escapar do cerco das Forças Armadas e estava me escondendo.
José Romero Cardoso: O senhor faz alguma crítica sobre a guerrilha do Araguaia?
JCW: A principal crítica eu faço à direção do Partido, pois esta abandonou vivos e mortos nas selvas do Araguaia. Na floresta fui posto na “geladeira” por contestar ordenas absurdas, como a de não poder usar barba ou falar com as pessoas da terra
José Romero Cardoso: Por quê o senhor decidiu ser jogador profissional? Fale um pouco sobre a experiência no futebol.
JCW: Sempre gostei de futebol. Fui jogador profissional, fiquei conhecido por Paquetá, em referência à ilha em que nasci e morei. Como volante, atuei no América (RJ), onde me profissionalizei, no Flamengo e em times pequenos da França, Holanda e Bélgica. Ao voltar do Araguaia, no final de 1973, passei meses escondido na casa de amigos e parentes. Consegui me reinserir na sociedade pelo futebol. Quem me ajudou foram o compadre Afonsinho, o também médico Afonso Celso Garcia Reis, que jogou no Botafogo, Flamengo, Santos e Fluminense. Integrei também equipe de veteranos. Excursionei com os campeões do mundo Nilton Santos, Orlando Peçanha, Mané Garrincha e o ponta-esquerda Edú, que foi do Santos. Joguei ainda em Angola, em um projeto que unia música e futebol, idealizado pelos cantores Martinho da Vila e João Nogueira, nos anos 80.
Comecei a jogar futebol no juvenil do América (RJ). Em 1963 fui campeão carioca pelo Flamengo, mas não joguei nenhuma partida por que estava com hepatite. No ano seguinte fui para a Europa. Guardo como relíquias fotos com o craque argentino Di Stéfano.
José Romero Cardoso: Quando e onde o senhor se formou em medicina?
JCW: No fim de 1967 voltei da Europa disposto a fazer vestibular para medicina. Passei para a Faculdade Federal de Medicina e Cirurgia, atual Uni-Rio e abandonei o futebol. Depois dos percalços vividos nas selvas do Araguaia, retornei à faculdade e me formei em medicina.
José Romero Cardoso: Por quê decidiu optar pela acupuntura?
JCW: Por que a acupuntura é um dos pilares da medicina alternativa. Como você bem sabe, pois é meu paciente, a alopatia tradicional tem seus prós e contras. A acupuntura não deixa sequelas e conserva corpo e alma livres de males químicos que acarretam transtornos aos seres humanos.
José Romero Cardoso: Por quê escolheu Mossoró para residir e clinicar?
JCW: Em razão de ser uma cidade agradável, boa para se viver. Identifico-me com os valores e com o modo de vida simples de Mossoró
Militante comunista nas décadas de sessenta e setenta do século passado, o médico acupunturista Dr. João Carlos Campos Wisnesky participou ativamente do movimento guerrilheiro encabeçado pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B) nas selvas do Araguaia. Escapou milagrosamente da devassa efetivada pelas Forças Armadas quando da mais brutal repressão levada avante pela Ditadura Militar. Além das aventuras na floresta amazônica, Dr. João Carlos Wisnesky foi jogador profissional, conhecido por Paquetá, tendo defendido famosos times no Brasil e no Exterior. Formado em medicina, depois de verdadeira odisséia, devido a repressão e perseguições impostas pelos militares, escolheu Mossoró (Estado do Rio Grande do Norte) para residir e clinicar. Mantém na capital do oeste potiguar, na rua Melo Franco, número 197, de frente à lateral do Tiro de Guerra, a conhecida Clínica da Dor, realizando trabalhos acupunturistas. Foi como paciente que fiquei sabendo de sua história de vida. Nessa entrevista, Dr. João Carlos Campos Wisnesky nos conta um pouco de sua trajetória:
José Romero Cardoso: Onde e quando o senhor nasceu?
JCCW: Nasci no dia dois de junho de 1943, na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro.
José Romero Cardoso: Seus pais militavam em algum movimento de massa?
JCCW: Não, meus pais são de tradição conservadora, católica. Meu pai descendia de poloneses, ele e a família eram bastante ligados á igreja.
José Romero Cardoso: Como foi sua formação educacional básica?
JCCW: As primeiras letras eu as aprendi na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro.
José Romero Cardoso: Como teve início a sua militância?
JCW: Sempre estive presente nos movimentos da UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), da UNE (União Nacional dos Estudantes), etc. No movimento de 1968, quando da instituição dos anos de chumbo, principalmente com a decretação do AI-5 pelos militares, começou a minha efetiva militância partidária.
José Romero Cardoso: Quando do golpe de 64, o senhor já era militante do Partido Comunista do Brasil?
JCW: Não, quando do golpe de 1964 ainda não era militante do Partido Comunista do Brasil, aos poucos fui enveredando por esse caminho. Comecei a militar no partido em 1969.
José Romero Cardoso: Como e quando foi sua chegada na região do Araguaia?
JCW: Cheguei à região do Araguaia em outubro de 1971, quando a experiência guerrilheira já estava bem avançada, pois os quadros do partido começaram a ser deslocados para a selva no ano de 1966. O codinome com o qual fiquei conhecido na guerrilha do Araguaia foi Paulo Paquetá.
José Romero Cardoso: Como era o cotidiano dos membros do PC do B na região do Araguaia?
JCW: No geral o cotidiano dos membros do Partido Comunista do Brasil na região do Araguaia era consumido com trabalhos na roça, o que considerei verdadeiro desperdício.
José Romero Cardoso: Como era a relação com os moradores da região?
JCW: O contato com os moradores era feito pelo comando e era proibido para os guerrilheiros conversar com a população local. Tenho a opinião que isso significou um grande prejuízo, um desperdício de militantes preparados. Quando cheguei na região do Araguaia achei tudo muito estranho. Como fazer um exército popular se não podíamos nos comunicar com a população? Falei isso ao comando e não me responderam.
José Romero Cardoso: Quais as principais expressões do partido que se encontravam na região do Araguaia?
JCW: As principais expressões do partido que se encontravam na região do Araguaia eram formados por gente do quilate de João Carlos Haas Sobrinho, Oswaldo Orlando da Costa, o lendário Oswaldão, João Amazonas, Maurício e seu filho André Grabois, entre outros. No que tange aos militantes, eram formados pelos principais quadros do setor estudantil, como José Genoino e Glênio Sá, pessoas treinadas no diálogo com o povo.
José Romero Cardoso: Como foi o início da repressão militar?
JCW: A repressão se iniciou quando o serviço de informação dos militares começou a infiltrar espiões, entre os quais o mais conhecido, temido e odiado era o major Sebastião Curió. Ele e sua equipe abriram caminho para que os militares começassem a adentrar a selva em perseguição aos guerrilheiros e às pessoas que nos ajudavam
José Romero Cardoso: Quando começaram os combates?
JCW: Os comandantes guerrilheiros dividiram nossas forças em três destacamentos. Os combates entre as Forças Armadas e os guerrilheiros nas selvas do Araguaia tiveram início no dia 12 de abril de 1972, quando cerca de vinte soldados atacaram ponto de apoio do nosso Destacamento A, em São Domingos do Araguaia. No dia 14 de abril as Forças Armadas atacaram novamente, dessa vez foi contra o Destacamento C.
José Romero Cardoso: O senhor foi comandado por qual chefe guerrilheiro e como era a convivência do grupo?
JCW: Eu fazia parte do Destacamento A, comandado pelo médico gaúcho João Carlos Haas sobrinho.
José Romero Cardoso: Quais os principais combates que o senhor participou?
JCW: Foram muitos combates, lembro-me bem de um do qual o comandante João Carlos Haas Sobrinho saiu ferido no peito.
José Romero Cardoso: Como era o dia-a-dia dos guerrilheiros sob a ameaça constante da repressão militar?
JCW: Era um dia-a-dia de medo, terror físico e psicológico e muitas incertezas, pois as ordens de Brasília foram para que não ficasse pedra sobre pedra na região do Araguaia controlada pelos guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil. Depois dos primeiros combates houve nítida intensificação dos rigores da repressão, ficando a mesma cada vez mais brutal.
José Romero Cardoso: Quem o senhor cita como os mais heróicos na defesa do território sob controle dos militantes do PC do B?
JCW: Todos, indistintamente.
José Romero Cardoso: E os mais covardes? Houve covardia dos militantes do PC do B na guerrilha do Araguaia?
JCW: Não, não houve covardia no Araguaia.
José Romero Cardoso: Quais as lembranças que o senhor guarda dos comandantes Oswaldão, Maurício Grabois e João Carlos Haas Sobrinho?
JCW: Lembranças boas, de homens serenos e tranqüilos, amigos de verdade.
José Romero Cardoso: Quando o senhor foi preso?
JCW: Fui preso não no Araguaia, mas em Anápolis, no Goiás, pela Polícia Civil. Consegui escapar do cerco das Forças Armadas e estava me escondendo.
José Romero Cardoso: O senhor faz alguma crítica sobre a guerrilha do Araguaia?
JCW: A principal crítica eu faço à direção do Partido, pois esta abandonou vivos e mortos nas selvas do Araguaia. Na floresta fui posto na “geladeira” por contestar ordenas absurdas, como a de não poder usar barba ou falar com as pessoas da terra
José Romero Cardoso: Por quê o senhor decidiu ser jogador profissional? Fale um pouco sobre a experiência no futebol.
JCW: Sempre gostei de futebol. Fui jogador profissional, fiquei conhecido por Paquetá, em referência à ilha em que nasci e morei. Como volante, atuei no América (RJ), onde me profissionalizei, no Flamengo e em times pequenos da França, Holanda e Bélgica. Ao voltar do Araguaia, no final de 1973, passei meses escondido na casa de amigos e parentes. Consegui me reinserir na sociedade pelo futebol. Quem me ajudou foram o compadre Afonsinho, o também médico Afonso Celso Garcia Reis, que jogou no Botafogo, Flamengo, Santos e Fluminense. Integrei também equipe de veteranos. Excursionei com os campeões do mundo Nilton Santos, Orlando Peçanha, Mané Garrincha e o ponta-esquerda Edú, que foi do Santos. Joguei ainda em Angola, em um projeto que unia música e futebol, idealizado pelos cantores Martinho da Vila e João Nogueira, nos anos 80.
Comecei a jogar futebol no juvenil do América (RJ). Em 1963 fui campeão carioca pelo Flamengo, mas não joguei nenhuma partida por que estava com hepatite. No ano seguinte fui para a Europa. Guardo como relíquias fotos com o craque argentino Di Stéfano.
José Romero Cardoso: Quando e onde o senhor se formou em medicina?
JCW: No fim de 1967 voltei da Europa disposto a fazer vestibular para medicina. Passei para a Faculdade Federal de Medicina e Cirurgia, atual Uni-Rio e abandonei o futebol. Depois dos percalços vividos nas selvas do Araguaia, retornei à faculdade e me formei em medicina.
José Romero Cardoso: Por quê decidiu optar pela acupuntura?
JCW: Por que a acupuntura é um dos pilares da medicina alternativa. Como você bem sabe, pois é meu paciente, a alopatia tradicional tem seus prós e contras. A acupuntura não deixa sequelas e conserva corpo e alma livres de males químicos que acarretam transtornos aos seres humanos.
José Romero Cardoso: Por quê escolheu Mossoró para residir e clinicar?
JCW: Em razão de ser uma cidade agradável, boa para se viver. Identifico-me com os valores e com o modo de vida simples de Mossoró
programação cine teatro junho - Araripe!
JUNHO - 2010
No mês junino, quando festejamos o nosso Padroeiro Santo Antônio o Cine Teatro Gov. Miguel Arraes encurta a sua programação para valorizar os festejos de rua que acontecerão do dia 04 a 12 de junho de 2010. Nos demais dias estaremos com nossa programação normal e esperamos a sua presença no nosso espaço!02/06: Música no Palco- 19h00
Show “Misturadinho”- Claudia Montelage ( Rio de Janeiro- RJ)
Claudia Montelage iniciou o seu contato com o canto ainda muito jovem no coral do colégio onde estudou. Lá aprendeu a divisão das vozes, o repertório popular, o internacional e a teoria musical. Aos 16 anos, foi convidada a fazer parte do Grupo Vocal Art Vozes. Os cinco integrantes interpretaram durante os 8 anos de duração do grupo, os ritmos de Minas, a MPB, a Bossa Nova e por último o samba - abraçado com paixão.
Participou de grupos de diferentes estilos musicais. Foi integrante do coro dos espetáculos musicais "A LISTA" de Oswaldo Montenegro com apresentações no Teatro Café Pequeno e "Auto de Natal com os Gigantes da Lira" apresentado no Circo Voador.
Aventurou-se a seguir carreira solo iniciando suas apresentações de bossa nova no Vinícius Piano Bar. Logo depois se dedicou ao samba. Seu repertório tem como referência músicas de Cartola, Martinho da Vila, Paulo César Pinheiro, Pixinguinha, João da Baiana, Geraldo Pereira, Donga, Candeia, Noel Rosa, entre tantos outros compositores.
Durante anos investiu em formações que auxiliassem a sua interpretação. “Escola de Música Villa-Lobos”; “Pesquisa corporal para cantores" coordenado pela professora Ana Kfouri; “Curso de danças e folguedos populares” coordenados pelas professoras Laís Bernardes e Christiana Brasil; "Técnica Vocal e Repertório" do Centro Ian Guest de Aperfeiçoamento Musical; "Masterclass" com Felipe Abreu no Voz Plena (Centro de Aperfeiçoamento da Voz Cantada).
Em 2009 foi convidada a integrar o corpo musical do Grupo de Danças Populares Zanzar. Coco, ijexá, samba de roda são alguns dos ritmos cantados por Claudia que embalam os dançantes em suas coreografias.
Também em 2009 foi convidada a fazer parte do grupo Segura Nega Samba Funk. O Grupo passeia pelos diversos estilos do gênero, desde o samba de raiz ao samba funk.
Nos encontros que a música proporciona, Claudia tem firmado algumas parcerias que resultam em belos projetos. Junto com o cantor André Jeovanio apresentou o "Projeto Raízes" em diversas casas do Rio de Janeiro. Com a cantora Denise Krammer, apresentou o show "Influências" na Sala Baden Powell e no Bar Semente que é referência do samba na Lapa.
Em 2008 no Concurso realizado pela Rádio Nacional no programa Ponto do Samba, comandado pela cantora Dorina e Rubens Confeti, se apresentou entre os 14 finalistas no Teatro Rival. Posteriormente foi convidada junto com as cantoras Karla da Silva e Flávia Dantas a apresentar um tributo a Cartola que foi transmitido ao vivo para todo o Brasil através da Rádio Nacional.
No final de 2009 foi convidada a estrear o projeto idealizado por sua preparadora vocal Suely Mesquita. O “Pocket Solo”, gravação de DVD demo onde a cantora apresentou 3 músicas com 3 músicos. Foi aplaudida de pé, durante vários minutos, por um público, em sua maioria, formado de profissionais da música.
Dona de uma voz suave que contrapõe sua irreverente interpretação, essa genuína carioca sente imensa alegria ao cantar. Sobre a sua relação com a música ela nos declara entre risos:
13/06: Cine pra Ver- 19h00
17/06: Arte na Tela- 19h00
18/06: Musica no Palco-19h00
Banda Tábua de Pirulito (Crato-Ce)
O imaginário infantil anda meio carente no que diz respeito a musicalidade. Surge então, uma nova banda, genuinamente caririense, destinada a este público (os adultos também gostam), no intuito de resgatar a infância perdida e levar a alegria aonde ela for. Com um repertório que mescla desde o que foi sucesso nas décadas de 1980, 1990 e composições próprias, fazem a alegria tomar conta do pedaço!Classificação etária: livre
19/06: Ato Imediato - 19h00
Espetáculo de Dança: BR 116 (Cia de Dança Alisson Amâncio- Juazeiro do Norte-Ce)
“BR 116” é um espetáculo de dança contemporânea que exprime, mais do que inúmeros fatos, lendas, sonhos e tragédias que acontecem no percorrer da maior rodovia do país e sim uma metáfora para falar de uma profunda viagem para dentro de nós mesmos, enfrentando nossos desejos, medos e obstáculos a fim de alcançarmos o entendimento do eu, do outro e do mundo do outro. Pois o que há de mais bonito no encontro é que a ele precedeu total desencontro.
20/06: Cineminha - 16h00
Cine pra Ver - 19h00
24/06: Arte na Tela - 19h00
25/06: Musicais de todos os Tempos - 19h00
26/06: Ato Imediato:
Espetáculo de Teatro Infantil: Dona Patinha vai ser miss ( Cia Anjos da Alegria-Crato-CE)
“Dona Patinha vai ser Miss” conta de maneira fabulosa a história do romance de Dona Patinha e o Senhor Coelho.
Ambos são apaixonados um pelo outro, mas a tia da Patinha, Dona Marreca, uma senhora sofisticada, mas um tanto ambiciosa, é contra esse namoro. Seu grande sonho é ver sua sobrinha com um título de Miss e casada com um bom partido, como o Senhor Raposo. No desenrolar dessa história, cheia de aventuras e com muita confusão, “A Sobrinha da Marreca” em um desfecho inesperado e de muita emoção.
Classificação etária: livre.
27/06: Arte Retirante – CCBNB - 19h00
Show Musical: Sebatian Jantos (Uruguai)
Sebastián Jantos, cantor e compositor de Montevidéu, Uruguai, mostrará suas composições mais recentes, além das canções do álbum “FUÍ YO”, lançado em 2008 (selo Perro Andaluz)
Jantos, desde 1996, participa de bandas uruguaias como “La Arca de Noé” e “Cursi”, tendo desenvolvido nelas atividades como cantor, violonista, pianista, acordeonista, percussionista, compositor e arranjador. É a partir de 2002, que passa atuar como cantautor, investindo em sua carreira solo.
Em 2003 e 2004 pesquisou ritmos, folclore e música brasileira participando de oficinas e atuando como músico (em duas passagens que foram determinantes em seu trabalho) na cidade de São Luís do Maranhão (Brasil).
Em 2008, o selo montevideano Perro Andaluz edita o seu primeiro CD, intitulado FUÍ YO, que conta com produção artística de Diego Drexler e com a colaboração de músicos amigos como Jorge Drexler, Fabián Krut, Federico Graña, Javier Cardellino y Román Varas (Argentina).
Desde então, vem apresentando as canções deste trabalho discográfico junto ao multi-instrumentista Javier Cardellino (Cursi, Snake, Ricardo Lacuan, Daniel Drexler) em palcos uruguaios e argentinos.texto do site/blog Palavraria
Classificação etária : livre
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